A “Moda” da Idéia

Aconteceu na ultima terça-feira, 20 de novembro, no Café com Letras (Antônio de Albuquerque, 781), seminário voltado a discutir a moda em tempo real, aqui e agora.
O evento, que aborda várias facetas da produção cultural e crítica local e global, esse dia, dedicou o espaço ao debate sobre produção de moda.
Estiverem presentes os palestrantes convidados Natália D’Ornellas (O Tempo/ L’Officiel Brasil), Carla Mendonça (UFMG) e Suzana Bastos, estilista da marca Coven. Como moderadora o seminário estava presente Mariana Tavares, coordenadora do curso de design de moda na UMA.
A noite foi aberta com explanações sobre o atual panorama de todas as áreas que envolvem moda. Permeada de contradições, opiniões e consensos, o discurso das palestrantes abriu margem à reflexão de como fazer moda. Também foram discutidos os modos de produção, de como se mostrar, como vender, etc.
Abrindo o ciclo de palestras, a acadêmica Carla Mendonça dissertou sobre a análise dos sintomas da moda em Belo Horizonte, e sintoma, como sabemos, quer dizer também a queda: o caso, o acontecimento infeliz, a coincidência, o fim do prazo, a má sorte.

Sugestão de hipertexto-depoimento enquadramento [in Box]

“A moda está definitivamente
consolidada como arte”


Tentando reconhecer sintomas e sugerir diagnósticos, foi discutido o “vestir-se”, inseparável de todas as outras figuras do “próprio do homem”. Estruturalmente, os “próprios do homem” podem imantar um número infinito de conceitos, a começar pelo próprio conceito de conceito. A moda necessita de um ser-estar público, necessita reflexo midiático. Mas como?

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Do gueto para o mundo

Suzana Bastos expôs a questão da moda versus roupa: “ainda não entendemos a moda como um produto” afirmou. Segundo ela, a moda é muitas vezes reduzida ao produto roupa, quando na verdade, envolve na fabricação, divulgação e comercialização, uma série de outros fatores. Diversas mídias se envolvem nesse tema. Alguns fashionistas vestem a camisa da modernidade, e se manifestam formando agrupamentos e novas proposições. A exemplo de Brick Lane Market, de atmosfera vibrante, com o cutting-edge (corte de ponta) e suas lojas de moda independente.
A professora Mariana Tavares, mediadora do debate, colocou em questão: “por que não temos iniciativas coletivas como nossos visinhos da Argentina?” Segunda ela “Buenos Aires, apesar de não se comparar a Dover Street Market, em Londres, edita a revista View Point que visa o focus trend do momento, ou seja, visa centrar tendências.” e questiona ainda “se já existem mídias, ou seria o caso de se criarem novas formas de divulgar a moda?” conclui.
Respondendo a essa pergunta, a jornalista Natália D’Ornellas nos lembra que alguns eventos que se propuseram a mostrar a moda em Minas, além de não contarem com uma organização ideal, não tiveram grande repercussão de público. Um bom exemplo, no entanto, foi o 3º Colóquio de Moda 2007, que “inclui a cidade na cena fashion, mesmo que debatendo o fazer da moda” nos lembra Carla Mendonça, doutoranda pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E acrescenta sem digiversar que “a moda está definitivamente consolidada como arte, tendo sido reservado um espaço exclusivo à moda na Documenta de Kassel” (maior evento de arte contemporânea do mundo, que acontece de cinco e cinco ano em Kassel, na Alemanha).
Além de tentar fugir do hyper (o moderno instituído) e somente ele, ditando as regras da moda, “devíamos fazer moda de forma mais experimentalista, com parceiras e divulgação como um caminho para a consolidação do produto” completa Suzana. A experiência transgressal, se não transgressiva de uma “limitrofia”, inexistente ou artificial, que, no entanto, não nos permite fugir do espaço geográfico onde vivenciamos nossas experiências.

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Lógica de Mercado
Sociedade de Consumo ou Sociedade do Descarte?

O mundo da contemporaneidade interessado em descartar, pois, a força avassaladora do tempo de subjugar a si mesmo, deixa-nos somente o Espaço. “Hoje, se compra uma bolsa da Jay (marca coreana). Daqui a dois meses, rasgou você joga fora.”, disse a estilista Suzana Bastos. É o fast fashion que foi vaticinado há décadas atrás e hoje invadiu de forma expressiva o coletivo pensante, coletivo cognitivo. A imagem da moda chegando antes da roupa. O tempo tentando acompanhar o desejo. A moda tentando atender o desejo de consumo. A lógica de mercado da moda sendo a mesma para vender ladrilho, ou carro, ou celular.
A prerrogativa mais constante durante o seminário, no tocante ao produto da moda, ou seja, o próprio homem (que veste a roupa: objeto final da moda), deveria abordar o ser conceitual, levando em consideração o calor tropical, o corpo brasileiro, a paisagem, etc. A moda interessada em criar identidade cultural. A exemplo disso foi citado “Cadernos de Notas sobre Roupas e Cidades” do cineasta Win Wenders onde ele faz um ensaio sobre o estilista japonês Yohji Yamamoto. Para o diretor, fazer uma roupa ou fazer um filme contém a mesma busca da verdade. Do prêt-à-porter e da moda dos meninos de rua e das garotas do subúrbio.
A moda como uma atividade “transversal”, que corta diversos segmentos das atividades socioculturais. A moda, que era uma manifestação restrita ao ambiente privado e associada à dimensão feminina da vida, vem extrapolando em muito essas características, associando-se à indústria cultural de diversas maneiras, desde o cinema clássico de Hollywood, que, enfim, promoveu a moda. “Então, é a figurinista da novela, a grande difusora de moda no Brasil” segundo a jornalista Natália D’ornellas, “em uma sociedade que valoriza tanto a aparência como a nossa, o interesse pela moda é bastante legítimo” finaliza.
Weisse Katze

Comentários

Edson Junior disse…
Agora vejo que você, como eu, é de Belo Horizonte.

Dia desses a gente toma um chá.

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