Beco da Saudade

Está sendo difícil esse reencontro. Está sendo difícil aceitar-me de volta. Hoje, como em um solo de sax tenor, foi preciso expirar no ar todas as lágrimas que sobravam, expremendo fortemente os olhos. Esses eram os dias, meus amigos, que eu pensava que nunca acabariam. A arte latu sensu de estar só. Noites passei sem você. Noites passei mergulhado em minha alma, tentando saber o porquê de sentir-me tão só, sozinho. Na madrugada a solidão incomoda mais. A solidão é só nossa. Os anjos estão a sua volta, mesmo assim a solidão incomoda. É difícil aceitar-se de volta. Encaixar a alma no próprio corpo. Começo sentindo cada ruído do hipertexto. Ouvindo o vento balançando as folhas das árvores roçando. A brisa toca suavemente meu rosto. Ontem a lua estava linda com seu sorriso amarelo. Aproximei-me de mim, mais uma vez. Aproximei-me mais de mim. Estávamos brigados. Noites que passei sozinho, sem você, sem mim mesmo. Noites que passei exigindo a sua presença, e odiando. Portanto esse eu se afastou. Foi para longe de mim o eu Bom. Atento a todos os movimentos possíveis de captar. Fiz inimizades nessa cidade. Quando não consegui dormir aprendi a escrever. Eu sou um cidadão do mundo. O Cigano esteve aqui em minha casa e eu lhe presenteei com um quadro uma revista e uma cueca. Ele disse que não me preocupasse com a feição das pessoas que passam sem rosto. O resto é vida.
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Comentários

Gu,
"A solidão é só nossa" - e como, e como.
É tão tarde, vou lá fazer companhia para a minha.
Bjos
Texto-Al disse…
respondi às questoes que colocou lá no texto-al.

abraço
Tiago
Cris disse…
Oi, Gustavo,

Quanta intensidade nessas palavras! Apesar de muito difícil no começo, aceitar-se de volta é o caminho...

Beijão.
Menina do mar disse…
É. aceitar-se de volta, é o caminho...
Silvares disse…
Os seus textos estão cada vez mais românticos (no sentido literário e artístico do termo)... literalmente.
Gustavo disse…
Oi Silvares,

meus textos... eu sou um ultra-romantico, da segunda fase do romantismo:

http://papagaiomudo.blogspot.com/2008/04/spleen.html

saca só!
abs,

Gustavo
Lília Abreu disse…
Gus,
Abençoada insónia (assim como os porres).

Sempre que a paz se ausenta sentimo-nos mais sós. Nessas alturas, tento concentrar-me no simples acto que é respirar. Imagino-me, longe do meu quarto, de lisboa, do mundo e, mentalmente, murmuro paz.

Depois, depois, Dom Quixote, sempre tendes a Dulcineia, rs

Abraços com carinho, sem relógios a porem-te maluco, rs!

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