20 de março de 2011,

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Hoje, às 20h18min, acaba o verão. Verão passado foi inglório, mas hoje isso se torna apenas passado. Hoje estou, de fato, tirando todas as coisas do meu quarto; gavetas, armário, tudo. Tudo que quero preservar. Já encaixotei meus livros e minhas pequenices que são tudo que tenho. Joguei fora poucas coisas sendo que já tinha tudo armazenado, pois nunca me instalei realmente. Cada estante já está vazia. A cada instante descubro coisas esquecidas, uma camisinha vencida, cartas sentimentalistas (pois as mulheres e as mães escrevem cartas sentimentalistas), manuscritos à caneta que há muito não existe. Mexendo em minhas últimas gavetas, encontrei uma coleção de calcinhas. Quê dizer? São de relações que também não existem mais. Símbolos icônicos de fetiche que não tenho mais. Nem sei distinguir de quem são. São de antigas namoradas, sim, que cantam agora em outras serenatas. As pequenices também são ícones que trago pela curta jornada da vida. Objetos, não muitos, que relaciono a determinadas lembranças, que racionalizo, mas que invadem o setor afetivo. Essa “mudança” é para mim quase um “despacho”. O Titanic está afundando. Quebrou-se o eixo central, a água invade às plenas e quem pode se salva. Renascer é quase um vento divino, um suicídio existencial Kamikaze. Um ir sem deixar-se levar. Um pulo de ponta, um dar-se conta de que mesmo as pequenices de passado não existem. Só significam algo para mim. Algo que se perde e que se renova, pois o sol não pede licença pra nascer a cada dia. Sigo seguindo. Do mundo não saio. Não sou santo, mas se caio me levanto. Da vida trago só a própria vida e as marcas que ganhei. Os espinhos rasgam a carne, dilaceram a alma e o caminho é árduo. Tudo está vazio e estou mentalmente pronto. Existe, de certo, uma auto-organização em meio ao caos, percebe?, que cria e desembaraça novelos. Um fio, aparentemente, interminável de filamentos que se desgrudam desse elemento essencial. Não sei para onde vou crescer. Não traço minha vida com régua. Não sei qual será o próximo passo, mas sigo andando. Desnorteado? Eu me oriento pelas estrelas e pelas sombras, pelo céu e sol. Sou um homem, um animal autobiográfico. Durmo durante a noite e acordo quando amanhece. Sigo pelos horizontes que despontam a minha frente. Hoje é domingo, tudo está vazio. O domingo não gosta de ver ninguém bem. (as calcinhas vão pro lixo).

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