Belo Horizonte, 29 junho de 2011

Caro Caio, magistral dublê de poeta,


Hoje, mais cedo, li seu último texto e confesso que fiquei refletindo até agora. Refletindo sobre as coisas que realmente temos, guardado o sentido relativo de realidade, aquilo que de fato, talvez, sejamos os únicos possuidores. Os livros de francês, a literatura que guardamos, pequeninas coisas à que estamos fisicamente entrelaçados, ao doce passar do tempo, quando se desfruta a solidão das horas mortas. Hoje, não escrevemos mais para ninguém, não temos passado triunfante que revele glórias e vitórias. Ao contrário, temos algumas batalhas perdidas. No entanto, continuamos em campo, vivendo em nosso pequeno mundo. Ali vejo a luz do abajur, vejo o bonsai que resplandece indiferente a mim,
vejo que acolá também
resplandece o vazio, que morre o mito, que soçobra a revolução que fizemos em nós mesmos, a título de reforma, reforma íntima. A janela, primeira noção de percepção, que foi muitas vezes minha inspiração. Não mais me pertencem as cores do céu através desse vão que eu chamava de meu. O que somos hoje? Hoje sinto a terra seca. Sinto como se estivesse morando em um navio que encalhou nas areias do deserto. Ainda que por poucos dias, sinto que nosso barco naufragou. Acho que vamos encontrar águas mornas e terras menos desérticas, mas iremos a nado. Hoje pesa sobre mim a lembrança daquelas tardes de domingo em que éramos bajuladores de Dionísio. Contagem regressiva. Faltam dois dias para a mudança. Não importa mais o que eu tenho, mas a lúgubre lembrança apenas das coisas que deixarei pra trás. Sou forte candidato a tornar-me estátua de sal.

Comentários

Unknown disse…
vc é um cara lindo. tem que espalhar mais essa beleza q vc tem
Esquecer os maremotos, ardus torrentes, tsunamis
perdoar deus

obrigado

abç

caio
Adriana Godoy disse…
Duca!! Beijo
Gustavo disse…
Oi Adriana!

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