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Deus,
Como vai?
Você tem sentimentos?
Creio que sim, pois se enfurece.
Meu computador, lugar onde registro minhas, anda as avessas comigo. Parece que não me resta alternativa senão prosseguir meu relato. Sobre a caminhada, penso que estive diante de você, tanto quanto estive submerso no meu self.
Algumas, sim, admito, várias vezes, pedi que me ajudasse. Não que estivesse perdido, ou me faltasse alguma coisa essencial, mas perdido no deserto das ideias, ermo de vontades urbanas, no espaço inabitado eu havia de haver um Gustavo; ou vários. O pensamento.
Não havia ninguém que eu reconhecesse como eu mesmo. Ninguém que eu pudesse chamar pelo nome. Então ninguém existia de fato. Ninguém que cobrasse o preço da angustia, da miséria humana, do fim da linha, da vida, do mistério, do cansaço, da ferida, da fome, da culpa, da ida e vinda sem sentido, sem quês, porquês, sem iças, enças, sem crença, sem dor, sem doença, sem medida, sem amor. Oh Lord, you know we’re aint that strong. Ouço minha voz among others... It’s a long way.
Melhor era tudo se acabar.

Amanheço.
Frio faz. Faz quanto tempo estou andando pelos cumes de montanha? Quanto tempo faz? Não sei, não conto, não me lembro, não me lembro de... o tempo absorveu levou arrancou arrebatou extraiu capinou sacou carpiu livrou meus pensamentos. O que pensa é meu corpo. Não agora, nem quando, naquela hora sem hora, não foi nem fui nem fiz; não “quis”, com efeito, o que quer que esteja contido no não-tempo. A preponderância de desejo não havia.
Não eu aquilo que não era não estava, não esteve, apenas repetindo gestos. Reproduzindo ecoando copiando retinindo imitando transcrevendo ressoando...
O homem não rompe o deserto, sacraliza-o.
Havia comida na panela.



Sonhar ilhas, com angústia ou alegria, pouco importa, é sonhar que se está separando, ou que já se está separado, longe dos continentes, que se está só ou perdido; ou, então, é sonhar que se parte de zero, que se recria, que se recomeça.
                             trecho de A Ilha Deserta
                              Gilles Deleuze














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