Infinita Highway

Belo Horizonte, 16 de janeiro de 2014.

Infinita Highway

Caio,

Pensava que não houvesse nunca nem para sempre, mas começo a duvidar dessas questões de neutralidade. Acho que pulei os cumprimentos, na ânsia de escrever essa carta. Ontem comecei a ensaiar um enredo, mas a lua se foi, o dia nasceu... não deu. Deixei pra depois. Hoje a página ficou aberta o dia inteiro, contudo mais uma vez confirmo que a voz interior acontece nas horas mortas. Você lembra aquele meu PC? Então também sucumbiu na hora morta. Amigo, depois nove meses revisitando os textos do blog eu sucumbi pra renascer de novo. Redundante mente. Meu trajeto foi penoso. No início do ano Manú se matriculou nas Letras e eu tentei o suicídio. Nada convencional pros tempos modernos. Fui parar num Hospício, que chamam de hospital psiquiátrico, por oito dias infinitos. Logo em seguida, o medo, segundo Castañeda, que move o mundo. pra girar girar e voltar a ser a mesma merda, como o eterno retorno e o cachorro tentando morder o rabo. Isso acontece muito, eu já vi. Já tive medos e já presenciei medos também. Ambigüidade supervisionada pela dúvida. Não falo do medo de atravessar a rua, mas o medo atávico, medo drama. Para uma vida inteira. O medo que faz alguém desistir de um sonho quando é possível realizá-lo, mas realizar é fazer com as próprias mãos, é materializar o objeto, ao invés de só imaginá-lo.
Só pra te situar. Estou escrevendo no laptop e agora são dez pras quatro. Ao fundo alguém solando No more blues, a lua ainda está alta no céu. Ainda não se escondeu atrás dos prédios em janeiro de 2014, ano do cavalo. Ainda não se pôs sobre o galo. Mas o sol sempre se levanta. Inabalável com seu brilho aflito, e ilumina a todos indistintamente. Eu me perdi foi julgando o comportamento humano, depois de uma extensa e detalhada análise critica. Mas a vida do homem vai além do bem e do mal. É sincera, ainda que cruel. Dualismos não existem, Caio. Descobri isso no domingo passado assistindo Silvio Santos. Quem quer dinheiro? Acho que isso resume um pouco de tudo. Esse conflito cotidiano em ser economicamente produtivo. Eu cheguei à conclusão seguinte, cada um nasce com sua pedra de Sísifu, quando estamos descendo pra buscá-la é que amaldiçoamos o mundo. Mas eu não amaldiçôo nada, Caio. Deixo que tudo viva. Deixo que tudo se mova ou permaneça como está. Um dia o “porque” se
levanta e temos que comer essa omelete do tempo de amadurecimento, enquanto a simultaneidade do universo espera que caia a fruta. E vire semente e tudo se ilumina por um instante sendo parte apenas. Faço parte disso, my friend, nasci nesse mundo. Niguem me tira daqui. Eu olho pra lua e penso que um piscar de olhos equivale a sete voltas em torno da terra na velocidade da luz. Que a lâmpada não foi inventada antes porque tinham as mãos sujas de sebo. Que entre nós e o espaço cósmico persiste um infindável infinito nem não se importa nem um pouco com você. Comparável a ignorância humana, como disse Einstein. A mesma porta sem trinco e a mesma lua a furar nosso teto. Ah, Caio como eu queria tanto, aquele quarto, aquela telha de amianto, aquele quintal nos fundos, onde finquei minha barraca e fiz rituais xamanicos. Pensei que eu fosse O homem mais feliz do mundo. Em 2013 fui pego de surpresa e me deparei com algo que eu não esperava. Não me fiz vidente dos caminhos da geografia íntima do ego. A natureza humana é o verdadeiro infinito. Não pude conter meu desapontamento. Mesmo que nada tenha sido meu. Como agora as 4 e 55 quando olho o céu passa  na minha cabeça a imagem de um passado lindo. Tarde lua lenta
Sobre o espaço, sonhadora e bela! Deita no infinito docemente, enfeitando a madrugada, qual meiga donzela. Suave a luz da lua que desperta agora a cruel saudade que ri e que chora.
Abri então, minha caixinha de Pandora. E deixei escapar a Esperança. Ir embora, como sugeriu Camus. Sabia que Deus já estava morto. O deus-em-mim, mas mesmo assim, escrevi para ele um vasto relato sobre os dez dias que passei na montanha, sozinho, alegre, em mim, em profunda solidão e ao mesmo tempo com a peculiar sensação daqueles que viveram a segunda fase do romantismo, o ultra romantismo, a ligação com o Todo. a completude, a crença nesse eu-mesmo-deus, bípede criador e gerador de signos autobiográfico, urbano. Contei, Caio Campos que vi uma luz numa sala com a porta entreaberta, no fundo de um corredor do labirinto íntimo e me tornei Ele. Enquanto de dentro pra fora haviam brasas crepitando lambidas de fogo ziguezagueando.   

Mas enfim Caio, o mais dramático foi que recaí no vício e por água abaixo se foi o tempo de abstinência que eu havia conquistado. Como leite derramado. E aquelas dezenas ou centenas de limão que eu tomei sem álcool, transferindo a compulsão do veneno por vitamina C, meio performática e ritualisticamente, também entornaram no caldo animal total do tempo. E o beat angelical se transformou demônio. Eu quero, sem ofensas, que se fodam os dualismos e as dicotomias. Dêem algo que seja demasiadamente obliquo, humanamente ambivalente, fundamentalmente polissêmico. Não no sentido semântico, nem no beirada do axioma lexical. Quero que tudo mais já pro inverno, um pouco de paz no verão. Virei, como nos Paraísos artificiais, o comedor de ópio, um comedor de pedras. Desde que o samba é samba. Solidão apavora. Entrei pra dentro da caverna, porta sem trinco. Atravessei meu deserto e agora tudo certo como dois e dois são cinco.
Em breve eu finalizo o meu terceiro ciclo.
6 e 5...



udegrude tristessa inválida alegoria do xadrez das damas e dos cavalos que avançam e bravamente morrem como tolos, considero válidas as damas vadias putas underground esquálidas garçonetes de beira de estrada talvez citadas em uma tarde ensolarada jamais no Sutra do Girassol, mas Jack, Keroac saberia tudo isso sem que o Buda o dissesse? Ou Ginsberg numa tarde ensolarada?, mesmo que ainda quentes, em todas as mentes brilhantes da minha geração, a vomição que deve ir paras frentes de batalha, mesmo que seja terrível, vergonhoso diante pais e de uma culpa ancestral nos persegue e nos impede de romper a moral e os maus costumes, então deixamos de ser Charles Anjo 45, deixamos de ser comemorados por nossos feitos dionisíacos em virtude da literatura desse grande pequeno mundo de pirataria de assalto a que toda hora somos tomados e de susto me pego preso no desconforto desse frêmito se ninguém me convida pra jogar a fazenda feliz. O mundo apolíneo que me faz querer surtar quando o corretor ortográfico teima comigo e me confunde em frases inteiras.

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