como se baila na tribo



Baila comigo

Quando eu tinha sete anos, Deus beijou minha boca. Disse que eu nada dissesse, senão através de si. Assim segui minha sina, enfermo dessa doença divina, que me paralisou a fala através da língua. Sentado na mesa da sala, nunca me esquecerei dessa cena. Era uma casa pequena que viva cheia de alegria. A tarde caiu docemente sob meus olhos de criança. Então jamais minha voz, por mais que articulasse palavras – signos à luz de um sintagma – essa que a vós não fala, nunca fora ouvida.
Surpreendentemente, ainda lembro-me daquelas primeiras palavras.

O inverno

a folha que cai
de uma arvore

Os anos se passaram devagar. Divagar era em mim um retrato. Serpenteavam caminhos mudos. Montes de areia, desertificados, ao longo da existência. Ao longo da vida passado, ao lado, afrente, dentro, sistemas de signos linguais. Minha senda caminha na alma do nevoeiro.
Sorriso afônico, saber lacônico, viver impreciso.
Herói e Adônis de dicotômicos devaneios, quando surgiu, segundo as mitologias fenícia e grega, era um jovem de grande beleza. Nasceu das relações incestuosas, filho danado de coito espúrio, entre o rei Cíniras de Chipre que mantinha relações com a sua filha Mirra.
Adônis passou a despertar o amor de Perséfone e Afrodite. Mais tarde as duas deusas passaram a disputar a companhia do menino, e tiveram que submeter-se à sentença de Zeus. Este estipulou que ele passaria um terço do ano com cada uma delas, mas Adônis, que preferia Afrodite, permanecia com ela também o terço restante. Nasce desse mito a ideia do ciclo anual da vegetação, com a semente que permanece sob a terra por quatro meses. E explica mitologicamente que não há de haver a dor sem o amor...
Afrodite, do amor e da beleza sensual, apaixonou-se por ele. No entanto, o deus Ares, da guerra, amante de Afrodite, ao saber da traição da deusa, decide atacar Adônis enviando um javali para matá-lo. O animal desferiu um golpe fatal na anca de Adônis, tendo o sangue que jorrou transformando-se numa anêmona – representação de um símbolo disforme de ser.
Afrodite, que corria por entre as selvas para socorrer o seu amante, feriu-se e o sangue que lhe escorria das feridas tingiu as rosas brancas de vermelho. Outra versão do mito conta que Afrodite transmutou o sangue do amado numa anêmona.
O jovem morto desceu então ao submundo, onde governava ao lado de Hades e sua esposa, a deusa Perséfone – a rainha do submundo, que também apaixonou-se por ele. Isso causou um grande desgosto em Afrodite, e as duas deusas tornaram-se rivais.
O nome Adônis deve ter origem no mundo semítico - parece proceder do semita Adonai, expressão que significa Meu Senhor. É um deus que congrega em si elementos de várias origens, demonstrativo do grande sincretismo religioso produzido pelos gregos da antiguidade.
Freud descreve o mito criando a representação moderna de indivíduos que desejam vier sendo eternamente jovens. O complexo de Adônis.
finda essa ilação descritiva, torno ao presente andamento existencial.
sou filho mais novo de quatro irmãos. A diferença entre mim e Adriano, acima imediato, é de oito anos. Fui muito bem recebido no círculo familiar, porém, era uma criança de beleza singular que recebeu toda atenção e cuidados de minha mãe.  
Lacan, o grande estudioso  do comportamento humano, afirma que a mulher quando se torna mãe – totem primordial e renitente, que se repete representativamente entre povos de todas as culturas e nações – donde, através da análise participativa, observou o antropólogo e semiótico Levy Strauss, um referencial lacaniano – afirma que tais progenitoras criam a ilusão de possuírem em seus rebentos um poder fálico. Nesse contexto, o pai, também um totem basilar da cultura, opera a função de desviar o olhar materno para si.
Quando isso ocorre, a mulher dá-se conta de sua não masculinidade projetada no falo-filho que lhe provoca poder ilusório de próprios qualitativos do gênero oposto.
Contudo, amigos, o pai não raro compadece-se dessa fantasia feminino, afetiva e que proporciona poder, de todas as formas imaginadas. Feitio a que se agarra, segundo Lacan, até que o filho complete a idade de doze anos.
Para Lacan, a partir desse momento, a criança percebe sua própria existência, e passa a gerar signos simbólicos, doxa, opinião própria, durante a transição para a terceira infância.
é quando Jacques-Marie Émile Lacan afirma que o indivíduo torna-se sujeito, capaz de emitir missivas mensagens próprias e pessoais.
Decorridos anos sobre essa estrutura lógica, não tanto racional, mas que é válida por ser uma estrutura que ocasionalmente acontece e deve ser concebida como real*, assim como as ilações nietzschianas que se completam e indubitavelmente são aceitas como pensamento e da filosofia moderna, assim se deu minha vida de poeta. Ao modo dos sofismas, que se furtam de uma racionalidade, dita perfeita...
Minha mãe e meu pai possuem exatamente o dobro da minha idade. Tenho trinta e seis anos. Vim ao mundo para alegrar a vida de minha mãe, grande amor, ela sempre repete que foi a gestação mais feliz dos três filhos que gerou anteriormente. Estava ininterruptamente alegre e me diz que sorria a todo tempo. Eram um casal jovem, meus pais, e nesse período eram estáveis economicamente. Fui um príncipe entre os demais.
Apesar de tudo, todos os pros que somavam maior número versus adversidades, depois de profunda introspecção, nítida e ululante também conclui que, por causa de minha jonize  eles  também prolongaram sua respectiva jovialidade. É mente tão claro, são fatos tão reais. Eu me tornei um jovem precocemente sábio. E eles envelheceram mais lentamente que os demais indivíduos de mesma idade.
Não caberia um fim a esse último tópico autobiográfico, porém, como narrativa de pós estrutural, inda assim deixarei de maneira circular, contudo, em espiral eterna.
desde criança, desde a mais tenra infância, dedico assas elucubrações, por meio do intrincado sistema de signos linguais, àquele que beijou minha boca – o Paeter Onipontentis Aeterni Deus.
Deus é a dança do universo.


  



















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