Jovens leitores na Casa Verde

De forma proposital inicio com uma clara referência - ou melhor, citação - do conto "O Alienista".A forma mais inteligente e óbvia de se tomar conhecimento de uma obra é experimentá-la. Ver, tocar, sentir, ouvir,com os atuais recursos de que se dispõe em áudio-livros que oferecem a leitura fiel do texto, estando estes em domínio público. Exemplificando e tornando clara minha pessoal posição, contrária à deturpação da obra de Machado de Assis bem como meu repúdio ao desperdício de verba pública num projeto merecedor das atenções do protagonista do conto, Doutor Simão Bacamarte (leiam, ouçam o  original para melhor entendimento):



A leitura efetua com sucesso seu objetivo.
Este, e não aquele referido, dissecado em formato rude e banal, é o texto fiel, numa leitura cuja única interferência do ledor é a entonação.
Mas tratamos de Machado de Assis: e da conotação!
Sim, porque a linguagem conotativa é o que se encontra na experiência de conhecimento de quaisquer das obras machadianas.
"O texto não é só a história, o enredo, mas a palavra", nos ensina, sobre Machado, o Prof. Dr. Domício Proença Filho.
Necessário se faz dizer que a entrevista com o Acadêmico não tratou da relevância ou irrelevância da versão elaborada equivocadamente de Machado, mas da riqueza de seu estilo, aventurando-se a desvendar o psiquismo humano com rara sensibilidade e, Arte. Citando Machado, fazendo-o com "mãos de veludo".
Alguma sugestão de sinônimos para esta expressão?
Nenhuma delas será o que disse o Autor.
O que, além de questões filológicas, pois que não somos especialistas nesta matéria, profundamente nos inquieta é a constatação de que não temos escolas públicas equipadas com o mínimo indispensável. A cruel realidade brasileira nos expõe como um dos piores índices de qualidade de educação perante o mundo.
A evasão escolar, a falta de bibliotecas nas escolas, e, antes, e mais grave: falta de dicionários, lápis, papel e qualidade de formação dos professores são incômodas constatações que certamente inspirariam o Bruxo do Cosme Velho a outras tantas obras com críticas sociais profundas.




 


Há muito mais a ser tratado, de forma urgente e séria, para que se dilua uma obra irretocável como a de Machado de Assis...
Apenas um acerto, em toda esta polêmica:
Sintomaticamente foi escolhido o conto "O Alienista"!
Minha formação em Psicologia e longos anos em Psicanálise indica, com o conhecimento do conto, que há algo a mais nesta escolha... Em caráter meramente especulativo, levanto a hipótese de que estariam construindo uma imensa "Casa Verde" onde, a princípio, se colocariam os jovens. Com apoio e verbas do governo. Depois seríamos todos: discordantes, poetas, mansos ou divagadores.
Melhor seria, penso eu, que os detentores do poder agissem como Simão Bacamarte, em seu exílio na Casa.
"Frio como um diagnóstico" (M.de Assis, em O Alienista), poderão criticar alguns sobre este texto... porém lúcido, como apenas os loucos o podem perceber.

                               por Cida Valle

   

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