Cortázar vive




Há cem anos atrás nasceu um rapaz talentoso como eu. Um Vogelfrei, um pássaro livre, um fora da lei como eu.
Ele criou sua própria lei quando se perdeu nas notas do piano, e eu perdi o sono. Ele também, bem como eu, perdera o sonho ou a sensação inexplicável de perder-se no tempo. Perder-se no tempo é perder-se em si mesmo, em próprio labirinto. E acontece desse vir-a-ser interno se transformar em deserto, cenário árido e destruído. E nos perdemos na amplitude do vazio, entre céu e a terra, encontramos Deus em nós mesmos. Às vezes acontece Deus ser deus
nesse anoitecer gélido. Não há nuvens nem desfechos óbvios.
Não sou profundo nem raso. Estou sozinho.
Sinto muito não expressar aquelas frases que falavam tudo. Estive cego, sou mudo. Falar é abeirar as raias do absurdo.  Não seriam as frases que caracterizavam o vazio não há vazio no fundo, só fluxo, e ainda alguma ilusão, que resta acima de tudo. A desilusão que marca esse compasso. Ardente frio lamenta. Agarrada às margens... a paixão nesse riacho invisível e pouco profundo. As ilusões de transcendência, Alma Deus Mundo.
Quando comecei a escrever...
Estou sozinho. Estivemos juntos. Longe daqui aqui mesmo, nos verdes vales do fim do mundo. E perdemo-nos a caminho do infinito. Jazz uma inquietação, jazz congênito.
Fez-se o mundo, nesse frêmito frenético de frisson avulso. E a ígnea flama flui em eflúvios. Como as notas ressoando entre baixos e agudos, em auto desfalecimento.
Assim aconteceu comigo. Agradeço a tempestade.

Observo a lua
de um telescópio improvisado.

Miles Davis ao meu lado.

 
...nesse mês tudo é de Júlio
Cortazár jazz... 

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