Um giro pela arte com Nilo Zack

“O grafite está para um texto, assim como um grito está para a voz”
Paulo Leminski


Conversamos com o artista Nilo Zack, pintor de ilusões





G.P.
Zack, você desenhava na infância? teve alguma fonte de inspiração dentro de casa? Como surgiu a inspiração primordial?
.
N.Z.
Eu desenho sim desde criança, tenho alguns desenhos que datam de mais ou menos 1990, quando eu tinha 4 anos. Como toda criança falava sem parar e para me manter calado e fora de confusões minha mãe me colocava num canto para desenhar, e ali eu permanecia por um bom tempo.
Meu pai e pintor letrista (faz letreiros, faixas e etc.) então sempre tive contato com tintas e pincéis acredito que daí vem a influência.
.
G.P.
Qual o caminho que trilhou em seu trabalho, para chegar aos indiozinhos que você cria?
.
N.Z.
comecei no Graffiti em 2004/2005 numa oficina de um projeto social no Taquaril, depois fui me aprofundando nas técnicas de pintura e procurando conhecer um pouco o universo das artes. Em 2010 em um trabalho para a faculdade surgiu o primeiro "Menino Palhaço" que foi baseado em meu sobrinho.
.
G.P.
que tipo de música você ouvia na adolescência?
.
N.Z.
como um típico adolescente tive minhas fases, mas as mais marcantes foram o Rap e o Rock.
.
G.P.
e como você faz com as dimensões, Zack? Imagina, ou faz um rascunho, ou sei lá, sua visão dimensional...
N.Z.
imagino na hora, gosto sempre de usar toda a superfície que tenho.
Eis que nosso amigo Cláudio Rodrigues assume a entrevista.

C.R.
seu traço é incrível, parece ficar horas se exercitando. Como é seu dia a dia quanto ao grafite?
.
N.Z.
pinto 5 vezes na semana, às vezes só alguns traços pra sentir o cheiro da tinta...
.
C.R.
interessante. Mas você atingiu uma perfeição que parece que fica horas pintando. Como você chegou à perfeição de que estou falando? Qual foi seu percurso no desenho, na pintura e como chegou ao grafite?
.
C.R.
De 2010 a 2012, ficava muitas horas pintando, já cheguei a pintar 12 horas direto, no trabalho feito na rua dos Guaicurus com São Paulo. Comecei com desenho quando criança, depois comecei a pintar com a Pichação, dela fui pro grafite e dele pro mundo das Artes Plásticas...






Grafite ou grafito (do italiano graffiti significa em Latim e Italiano “escritas feitas com carvão” grafite vem da palavra “graphein”, que em Grego significa escrever, sendo também o nome que se dá ao material de carbono que compõe o lápis. Mas, se analisarmos em termos mais genéricos ainda, até mesmo as pinturas rupestres, dos Homens das cavernas, podem ser consideradas uma forma Pré-Histórica do grafite.
Considera-se grafite uma inscrição caligrafada ou um desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para esta finalidade. Por muito tempo visto como um assunto irrelevante ou mera contravenção.
hoje o grafite já é considerado como forma de expressão incluída no âmbito das artes visuais, mais especificamente, da street art ou arte urbana - em que o artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem pessoal para interferir na cidade. No entanto ainda há quem não concorde, equiparando o valor artístico do grafite ao da pichação, o que é bem mais controverso. Consiste em um movimento organizado nas artes plásticas, em que o artista cria uma linguagem intencional para interferir na cidade, aproveitando os espaços públicos da mesma para a crítica social.



Afinal, o que é o texto?

Ao discutir a posição do grafite diante do conceito de arte, tal como é concebida na contemporaneidade, nos colocamos a frente de um enorme giro em torno da Arte ao longo da evolução da raça humana.
Ao fim da caçada, com as mãos lambuzadas de sangue, o homem das cavernas apoia-se em uma das paredes e, por um acaso, deixa o gravado o primeiro registro de sua existência. Deve ter sido assim que tudo começou. Ao perceber que aquela era a representação de sua mão, ele tenta reproduzir outros modelos gráficos (do latim graphicus, -a, -um, desenhado por mão de mestre, perfeito, completo, do grego grafikós, -é, -ón, capaz de desenhar ou de pintar) do pensamento. a descoberta das pinturas pré-históricas promove uma grande discussão no mundo científico, entre os evolucionistas, que tentam atribuir sentido lógico a elas. Não se imaginava o que homem pudesse ter “consciência” do próprio pensamento. Elas exibem uma iconografia variada, em vários "estilos", técnicas e materiais. Em geral, trazem representações de animais, plantas e pessoas, e sinais gráficos abstratos, às vezes usados em combinação. Sua interpretação é difícil e está cercada de controvérsia, mas pensa-se correntemente que possam ilustrar cenas de caça, ritual, cotidiano, ter caráter mágico, e expressar, como uma espécie de linguagem visual, conceitos, símbolos, valores e crenças. Muitas composições são louvadas pela sua beleza e refinamento e seu apelo visual. Por tudo isso, muitos estudiosos atribuem à arte pré-histórica funções e características comparáveis às da arte como hoje é largamente entendida, embora haja uma tendência recente de substituir a denominação "arte" rupestre por "registro" rupestre, considerando a incerteza que cerca seu significado. Permanece, de todo modo, como testemunho precioso de culturas que exercem grande fascínio na contemporaneidade, mas são ainda pouco conhecidas. Fato é que, todo registro gráfico contém uma mensagem que será transmitida e interpretada e reinterpretada, pelo sujeito observante, infinitas vezes. E o Homem da pré-história obviamente sentia fome, um legi-signo simbólico que conhecemos através da palavra fome. Contudo, nesse período (período quaternário, quando o homem surge sobre a face da gleba terrestre) os primeiros bípedes viventes e pensantes não dispunham de uma linguagem preconcebida (sistema de signos linguais utilizados para representar uma ideia. Ideia - uma coisa que está no lugar de outra coisa) para transmitir o pensamento. Então ele reproduzia, de fato, a imagem da caçada que lhe vinha à mente.

















Bem antes




O texto está por toda parte.







É muito curioso verificar a que ponto a filosofia, até o fim do século XVII, fala-nos afinal, o tempo todo, de Deus. E no fim das contas, Spinoza, judeu excomungado, não é o último a falar-nos de Deus. O primeiro livro da Ética, sua grande obra, chama-se "De Deus". E em todos, Descartes, Malebranche, Leibniz, tem-se a impressão de que a fronteira entre a filosofia e a teologia é extremamente vaga. Por que a filosofia comprometeu-se a tal ponto com Deus? Foi assim até o golpe revolucionário dos filósofos do século XVIII. Trata-se de um comprometimento ou de alguma coisa um tanto mais pura? Poderíamos dizer que a filosofia, até o fim do século XVII, deve sempre atender às exigências da Igreja, e que ela é portanto forçada a dar conta de muitos temas religiosos. Porém sentimos muito bem que seria demasiadamente fácil; poderíamos dizer igualmente que, até essa época, sua sorte está um tanto ligada a um sentimento religioso. Eu vou retomar uma analogia com a pintura porque é verdade que a pintura está repleta de imagens de Deus. Minha questão é: basta dizer que se trata de um constrangimento inevitável nessa época? Há duas respostas possíveis. A primeira é sim, trata-se de um constrangimento inevitável dessa época que remete às condições da arte nessa época. Ou então dizer, um pouco mais positivamente, que é porque existe um sentimento religioso ao qual o pintor, e sobretudo a pintura, não escapam. Tampouco escapam dele a filosofia e o filósofo. Isso basta? Não seria possível uma outra hipótese, a saber, que nessa época a pintura tem tanta necessidade de Deus justamente porque o divino, longe de ser um constrangimento para o pintor, é o lugar de sua emancipação máxima? Em outras palavras, com Deus ele pode fazer seja lá o que for, ele pode fazer o que não poderia fazer com os humanos, com as criaturas. Assim, Deus é investido diretamente pela pintura, por uma espécie de fluxo de pintura, e, nesse nível, a pintura vai encontrar por sua conta uma espécie de liberdade que ela não teria encontrado de outra maneira. No limite, não existe oposição entre o pintor mais piedoso e esse mesmo pintor enquanto faz pintura e que é, de certa maneira, o mais ímpio, pois a maneira pela qual a pintura investe o divino é puramente pictural, onde a pintura encontra, precisamente, as condições de sua emancipação radical. Dou três exemplos: El Greco... Essa criação, ele só poderia obtê-la a partir das figuras do cristianismo. Então é verdade que, num certo nível, havia constrangimentos se exercendo sobre eles, e num outro nível, o artista é aquele que - Bergson dizia isso do vivo, ele dizia que o vivo converte os obstáculos em meios, essa seria uma boa definição do artista. É verdade que há constrangimentos da Igreja que se exercem sobre o pintor, mas há transformação dos constrangimentos em meios de criação. Eles se servem de Deus para obter uma liberação das formas, para levar as formas até um ponto em que as formas já não têm nada a ver com uma ilustração. As formas se desencadeiam. Elas se lançam numa espécie de Sabá, uma dança muito pura, as linhas e as cores perdem toda necessidade de serem verossímeis, de serem exatas, de se assemelharem a qualquer coisa. É a grande liberação das linhas e das cores que se faz em favor dessa aparência: a subordinação da pintura às exigências do cristianismo. Outro exemplo: uma criação do mundo... O Antigo Testamento lhes serve para uma espécie de liberação dos movimentos, das formas, das linhas e das cores. De tal maneira que, em certo sentido, o ateísmo jamais foi exterior à religião: o ateísmo é a potência-artista que trabalha a religião. Com Deus, tudo é permitido. Eu tenho o vivo sentimento de que com a filosofia foi exatamente a mesma coisa, e que se os filósofos nos falaram tanto sobre Deus - e eles podiam muito bem ser cristãos ou crentes -, não foi sem um intenso gracejo. Não era um gracejo de incredulidade, mas uma alegria do trabalho que eles estavam prestes a fazer. Assim como, eu dizia, Deus e Cristo foram para a pintura uma extraordinária ocasião para liberar as linhas, as cores e os movimentos dos constrangimentos da semelhança, também para a filosofia Deus e o tema de Deus foram uma ocasião insubstituível para liberar aquilo que é o objeto de criação em filosofia - ou seja, os conceitos - dos constrangimentos que a simples representação das coisas lhes teria imposto... É no nível de Deus que o conceito é liberado, porque ele já não tem a tarefa de representar alguma coisa; ele torna-se a partir desse momento o signo de uma presença. Falando por analogia, ele assume linhas, cores e movimentos que ele não teria jamais sem esse desvio por Deus. É verdade que os filósofos sofrem os constrangimentos da teologia, mas em tais condições que, a partir desse constrangimento, eles irão produzir um fantástico meio de criação, a saber, eles vão arrancar dele uma liberação do conceito da qual ninguém poderá duvidar. Salvo no caso em que um filósofo vá longe demais ou com demasiada força. Será esse, talvez, o caso de Spinoza? Desde o início, Spinoza se colocou em condições segundo as quais o que ele nos dizia já não tinha mais nada a representar. Eis que aquilo que Spinoza irá chamar de Deus, no primeiro livro da Ética, será a coisa mais estranha do mundo: será o conceito capaz de reunir o conjunto de todas as possibilidades... Por meio do conceito filosófico de Deus realiza-se - e não podia realizar-se senão nesse nível - a mais estranha criação da filosofia como sistema de conceitos.

Comentários

Postagens mais visitadas