Com prozac, com afeto



__ As coisas que ela escrevia na parede e tal. Ela gosta de você.
__ Então quer dizer que ela gostava de mim ao menos um pouquinho?
__ Claro que sim.
__ Mesmo com todos os meus defeitos?
__ Não. Com todos seus defeitos, não.
__ Pois é... grande merda é essa.
...
Vamos ver. 2010 foi um ano ruim. Ruim no sentido de sofrimento, sofrimento coletivo. Angústias a serem curadas em estágio terminal. A dor, o sofrimento novo que se tornou velho, e o sofrimento desconhecido a priori. Deixemos de lado o dualismo hermético entre Bom & Ruim. Aliás, foi também um ano de dualismo. Um ano que dividiu minhas metas e minhas metades e juntou tudo no que eu era antes. Então voltei a ser o outro quem eu era. Como parte do corpo que se regenera. Abandonei o detalhismo de certos ambientes. Comecei a sonhar repentinamente. Sonhar muito. Sonhar que voava sonhar com meninas que eu nunca vi. Seus olhos brilhavam como se eu devesse responder, como se me conhecesse há séculos. “Mas poxa, Gu, você sabe que aldeia é tudo” reclamando nossa fogueira particular. Sonhar com o elástico no teto do quarto, rodopiando, girando, subindo e descendo. Sonhar com the Fat Old Sun. Verde é a cor em decomposição então hoje é mais um ano. Quando parte do todo se ilumina, o Todo se mostra em sua plenitude. Eu faço parte desse ciclo que se reinventa. Que juntou as metades rasgadas em não-sei-quantos pedaços. Ensanguentada rasgada punhalada camisa molhada. Deixo que as borboletas pousem em mim, em busca do sal do meu suor. Isso não é uma alucinação. Uma delicia sonhar. Ponderei, resumidamente, profundamente, o EU SOU em comunicação com o Todo. Ou seja, viajei pra outro planeta e volto banhado de cores, luzes, energia, harmonia psicodélica dos anjos das esferas astrais superiores e “aquele que se eleva”, mas veja Zaratustra, nunca serei um super homem, embora a águia e a serpente sejam igualmente minhas amigas. Esse telescópio-pra-dentro-de-si vendo mais do que um céu estrelado. Essa lente de aumento foi minha ferramenta do alimento autofágico meu alimento autofágico, autofagia. E se você ver não faça barulho.

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