vida seca

A LOUCA ESTÉTICA DE DONA MARCELINA. Enquanto íamos e vínhamos eu observava aqueles lugares onde nunca fomos, como aquela noite em Nova Era, queria ter dito mais vezes eu te amo, quimera...Eu observava, no banco do passageiro, as labaredas das indústrias, os descampados, os aglomerados, as beiras de estrada... e me lembrava da Dona Marcelina. Ela quem limpava o apê da Valentina, de forma estranha e meticulosa. Como eu poderia descreve-la? sendo que a vi tão poucas vezes. Era uma senhora de baixa estatura, bem baixa, corpulenta e tímida. O fato é que ela tinha um senso muito louco de limpeza. Ela limpava cada taco do chão, um por um, deixando os que não conseguia para outro dia e uma visível obra de arte no chão. Talvez pela proximidade visual e meticulosidade com que ela exercia cada função, fosse ela assim, sem saber, criadora de estética visual única na arte de limpar tacos de madeira. Se eu fosse antropólogo ou psiquiatra eu estudaria essa mulher. Como ela desenvolveu essa metodologia de limpeza, de onde vem essa obsessão assimétrica e simétrica, em quanto tempo ela calcula limpar todos os extras. Se ela tem noção da susceptibilidade do emprego, e se ela tem, o que ela acha disso, de deixar uma obra inacabada. Essas são as perguntas que eu nunca fiz.
Weisse Katze

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