caixa preta

Pego carona na pantera de Amóz Oz. Há coisas que ficaram na garganta, mesmo depois de tanta verborragia. Mas não adianta. Ninguém virá em nosso socorro nos ofertar um ticket pra viver. Não sei bem com quem estou falando. A quem eu quero me referir. Digam que é a mim mesmo. Mas veio a vida como enxurrada. Veio com vontade, mas não nos deteve. Estava tão alheio que seria capaz de matar. Estive fora, por muito tempo. Envelheci no Espaço entre as horas. Por muito pouco fora estive dentro e muitos ventres acolheram minha nostalgia. Indescritível, icognicivel lamenta. Meu ego, meu espírito meu umbigo e o teto do meu cérebro. Criou musgo, deu dengo, dengue. Não tenho a menor preocupação em classificar e ou qualificar. Estou à beira das coisas boas e à distancia do que detesto. Como quando chafurdávamos na lama e nem dormindo éramos felizes. Lembrança embalsamada de silêncio. Há feridas que não cicatrizam e vão levando cada pedacinho numa necrose múltipla. Você foi o bacilo da nossa lepra, nosso casamento entre o inferno e o purgatório. Eu estava no purgatório, claro, pois pagava meus pecados. Você, naturalmente, era o inferno. Sem muito esforço, fazia-me perder as desesperanças. Tive uma vida antes de você. E tantos vês que mesmo assim não me viu, ou não viu. Pulei um carnaval sem samba. Cirurgia moral. Ainda sou o mesmo dantes do desastre. Sensível e conturbado, conciso e confuso, confesso. Retórico e susceptível à servidão humana. Cedo demais frente às vontades. Sinto, mas é paradoxal. Amo, mas com preguiça enorme, odeio. O Jogo das Contas de Vidro do Hesse também não existe, mas tanto quanto na vida eu sou o palhaço. Agora todos dormem. A madrugada como um presente da humanidade. Que todos durmam. Quem atravessa os portões da madrugada arranca, destroça, aniquila, falha e se rejubila (dependendo de onde você estiver). Lembranças e defesas que atravancam o meu caminho. Esforço para me desapegar dessas más recordações. Obter pela força ou pela astúcia uma nova concepção de ser. Extirpar com a navalha da razão. A cada dia que passa se esvai na brisa. Faz parte da festa dizer que foi uma merda. Tento extrair, fazer sair tirar com força, puxar arrebatadamente, com ímpeto e subitamente. Não moveria uma palha para além da minha indiferença. Somos o nosso passado e não só uma parte. Somos por inteiro, desde a existência do homem. Ressuscito das cinzas com dois ésses, desse ou para esse tempo. Nesse ou naquele tempo ou ocasião em tal caso. Noites de falta de nexo, verso e prosa. Perdoar é esquecer, memória de merda. A poesia foi cagada e esporrada na rua, nos bares e botecos, nos becos da favela. Ecoavam a mudez e a mudez o verbo e o verbo não conseguia engolir minha frustração. Chega dessa mentira deslava de ser. Chega de prosa e foda-se a poesia que só é bem vinda quando vier, vê se não incomoda. Incorpora teus versos ao travesseiro e vai deitar na minha cama. Dorme espreitando minhas orelhas e ronca no meu ouvido. Geme baixinho nos lábios da minha namorada, que é única sutil e me ama.


Comentários

Eduardo CardoZo disse…
fantástico o texto. Espero que o teu blog continue a ter a qualidade que até aqui tem apresentado.

Um grande abraço desde Portugal.
Beatriz disse…
A gente fica com raiva, sim.
Mas passa. Texto irado. Gsotei da força. ando assim, nos últimos dias então..
saudades
BAR DO BARDO disse…
foda-me a namorada Proesia
Alice Salles disse…
Que a poesia se rasgue e se desfaça com o vento...
Gisele Freire disse…
Lindo teu texto Gus!
Denise disse…
que lindo tudo aqui,quero voltar

"Não tenho a menor preocupação em classificar e ou qualificar"
Creio que ao classificar limita a possibilidade não acha?

carinho

Denise
Gustavo disse…
oi Denise,

obrigado pelos elogios. Sim,claro, penso que ao classificar limitamos a possibilidade de outras diversas interpretções.
carinho recebido!
com carinho também,


Gustavo

ps: adoro as pessoas sinceras.

Postagens mais visitadas