Pelos olhos do gato





Dia vinte e nove de dezembro do ano de 2012, dois dias para o ano-novo. Estou diante da tela imaculada, tinha rosas brancas caídas em seu vestido, a buscar signos rasgados pelo tempo como papel. O desenho amplo e discordante que no final arranja todo sentido. Que gira no espaço infinito, desrespeitando a fisicalidade dos fatos, a tornar-se o momento “agora” e engolir para fora aquilo que já foi dito. Seccionar as partes gravadas, de gosto, cheiros e ruídos. A ilusão de dispor fragmentos, livres de temporalidade, do meu cabedal de estrelas cadentes, em um único retrato, um retrato único que não se parece com nada, não indica nem simboliza nada e cuja representação não tem sentido. Finitude, significação. Foge da memória lúcida embora lúdica, porém tangível a compreensão gramatical, como a conhecemos, na dimensão onde-nada-permanece. Índices e sinais do acaso, suave vendaval em nosso olhar... Tal como ao verbo cabe lembrar a desdita de que um dia será esquecido. Adormecida lembrança soluçante e flébil, rosto de um sonho aéreo e polar flutua.  Ela é assim, como os gatos..


“veem quando não os chamamos e não veem quando os chamamos"

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