Confissões de Santo Agostinho
[Deus concebido como um ser corpóreo e difuso no universo]
Estava já morta a minha adolescência, má e abominável, e entrava na juventude, quanto mais velho em idade, tanto mais abjeto em futilidade, de tal modo que não me era possível conceber uma substância a não ser aquela que se costuma ver com estes olhos do corpo. Não te imaginava, meu Deus, sob a forma de um corpo humano, desde que comecei a ouvir falar de filosofia; sempre evitei isso e alegrava-me por ter encontrado a mesma maneira de ver na fé da nossa mãe espiritual, a tua Igreja católica; mas não me ocorria outra coisa que pudesse conceber acerca de ti. E, sendo eu homem – e que homem! – esforçava-me por te conceber como supremo, único e verdadeiro Deus, e, com todo o meu ser, acreditava que tu és incorruptível, e inviolável, e imutável, porque, não sabendo por que razão nem por que modo, no entanto via claramente e estava certo de que aquilo que é corruptível é inferior àquilo que não é corruptível, e aquilo que é inviolável, sem qualquer hesitação eu punha-o antes do que é violável, e que o que não está sujeito a nenhuma espécie de mudança é superior àquilo que pode sofrer mudança.
Aí está meu coração, Senhor, meu coração que olhaste com misericórdia quando se encontrava na profundeza do abismo. Que este meu coração te diga agora que era o que ali buscava, para fazer o mal gratuitamente, não tendo minha maldade outra razão que a própria maldade. Era hedionda, e eu a amei; amei minha morte, amei meu pecado; não o objeto que me fazia cair, mas minha própria queda. Ó torpe minha alma, que saltando para fora do santo apoio, te lançavas na morte, não buscando na ignomínia senão a própria ignomínia?
Para uma criança que eu não podia falar
«Com efeito, eu já não era a criança que não sabia falar (non enim eram infans, qui non farer), mas um menino que falava (sed iam puer loquens eram). E lembro-me disto (et memini hoc), dando-me contamais tarde de como aprendera a falar.»
Para uma criança que eu não podia falar
«Com efeito, eu já não era a criança que não sabia falar (non enim eram infans, qui non farer), mas um menino que falava (sed iam puer loquens eram). E lembro-me disto (et memini hoc), dando-me contamais tarde de como aprendera a falar.»
Tradução de Manuel Bandeira
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