Sex Cafe n' hav a cigar?

Diário de um fumante. Tem hora que você respira fundo e seus olhinhos enchem d’água. Sem medo encaro a multidão, sorrindo. Eu aqui, cheio de pontos. Você aí, cheia de vírgulas. Andava ainda frágil, quando quase morri quase morri. Eu não podia dormir, mas continuei tentando. Quando não pude mais dormir, aprendi a escrever. Quando você me atravessou como um suave vendaval. Na aurora dos tempos é chegada a hora do entardecer das minhas tristezas. Um abraço delicado no meu plexo. Por conta da garrafada que tomei, e essa não era pra impotência, era pra matar mesmo. Passei a noite no João XXIII sendo costurado, será que o espírito do nosso querido João XXIII estava lá do meu lado? Meu peito às vezes dá umas fisgadas. Observo meu corpo diante do espelho. Por uma fração de segundo vi outro Eu. A carne costurada feito couro de vaca. Você cuida de mim, passa pomada sobre os cortes, coloca as gazes, passa o esparadrapo, sem esquecer-se da estética. A arte é linear. A linha é curva. O vento é leve. Passarim pousa em frente a minha janela. É tudo que eu tenho: esse blog e minha janela. Não tenho certeza de possuir (sem o símbolo tirânico da palavra possuir) nada. Somente a mim mesmo e disso eu tenho a prova. As multidões andam querendo um alguém qualquer para crucificar. Já se passaram dois mil anos, vamos Deus! – implora com violência o Teu rebanho. Não sou digno de correr, fico e me explodo. Pensava que esse verbo era irregular e não declinaria o meu convite. Então fico e me explodo mais uma vez, mais mil vezes, acendo mais um cigarro. Aquele dia cantei Chet Baker pra você, hoje tenho os olhos cansados. Hoje eu cantaria e fumaria e explodiria mais mil vezes como um sapo a fumar mil cigarros e gozaria e dormiria em teus braços até você sair sem eu saber. Desculpa ser assim como eu sou. Desculpa gostar de café e fumar tanto. Desculpa seu enfisema de tabela. Desculpa meu câncer de garganta. Desculpa Deus, tocar nesse assunto e tomara que isso nunca aconteça. Morreremos jovens para sempre. Desculpa meu imediatismo, enfermeira, espírito de luz, amável e amante, ninfeta má. Desculpa as nossas vidas paralelas (como se eu fosse um pedreiro de dia e um travesti à noite...). Desculpa essas lágrimas que brotam do nada. O que quer que me possua, ignore, você me possui mais. Desculpa se você é como o vento de outono que diz que o verão acabou. Desculpa se te faço gemer e mesmo assim sou passível de uma devida e aprofundada averiguação. Se eu não quero falar nem lembrar o passado. Lembro que eu nunca existi que eu nunca fui, portanto nunca jamais eu o era. Estou, sou, na impermanência dos monges tibetanos, na previsão do tempo e dos profetas, na língua dos poetas, na faca dos estetas, na poeira dos anos. Soprado numa vocalização de faz, como você fez – sexo café jazz. Desculpa se deslizo no céu minha língua comparada a um sonho. Desculpa se lambo teu umbigo e ainda sim assim depois discuto contigo, sem querer que esse sonho se acabe. Quero tragar a fundo esse Você simbólico e um milhão de sonhos se tornam realidade. Esquece esse se vai dar certo, quero você por perto, não se perca de mim. Mantenha contato visual. Três mil palavras pra dizer que te quero e me desculpa também por isso. Sou apenas mais um Ouriço do jogo de croqué da Rainha do País das Maravilhas. Je suis Je suis Je... vem, minha criança.

Comentários

Anônimo disse…
Texto forte, Gustavo, mas super absorvente!
Para postar ando sempre às aranhas (expressão bem portuguesa, rsrs) com isto tudo em alemão...mas lá vai por instinto ou o tal 6º sentido da mulher, ainda por cima com meio século em cima!
Como fumadora este poderia ser uma pág. de um diário meu...ou talvez não!
Bj.
Gustavo disse…
Oi Gabriela,

Como fumantes, somos passíveis desses erros e acertos. As aranhas, sim. Então onde estão?
Gostaria de vê-las.
Beijos,

Gustavo
Gisele Freire disse…
Oi Gus!
Caraca quanta dor e quanta beleza!
Abraço!
Gi
Gustavo disse…
oi Gi,

a dor é Boa e é de prazer. A dor Ruim já se foi...
Abraço,

Gus
Anônimo disse…
Olá, Gustavo

Mestra está DIVINAL!!! Boa dica, gostei. Resolveu o meu problema.
Quanto às aranhas, andam por aí...não fazem mal a ninguém, enredam-se nas próprias teias, como muitos humanos que conheço!
Bj, bj.
Gustavo disse…
Olá Mestra,

Sou mestre em resolver problemas, deviam chamar-me Mal-Batahan.
Como mestre em matemática, você concorda que, para cada problema há uma solução?
Beijo,

Gustavo
Letícia Alves disse…
Não sou fumante!
Tempestade tem rinite hehehe
Mas compreendo sua descrição!
Beijos Tempestuosos!
Gustavo disse…
Tempestade com rinite quer dizer que todo o mundo (incluindo os fenômenos da naureza) tem seu ponto fraco...

Fumantes Somos Inocentes
tempestade com rinite

tipo chá sem dinamite
tipo sol com sinusite

nítinamente Nietzsche
pois o céu é o limite
com flávio cavalcante

desastre absoluto
Fidel sem charuto

de Sartre a Spinoza
e de D2 a Noel Rosa

algum que te irrite
fumante? hãm??? hã?

Repentista do DENIT
Departamento Nacional...
Alice Salles disse…
Gustavo, eu vi seu comentario mas nao sei ainda o que eu vou fazer! Tenho uma editora em São Paulo que ficou de me dar resposta e agora eu si perdi!
Mina disse…
Tu és um unicornio inocente querido, nesse quarto, nessa casa e nesse mundo.
que canta lindamente e roucamente lindo.
te perdoo se quiseres.
nilda disse…
Cultivo e pratico "as tradições de Minas Gerais" pra ver se aguento o tranco da modernidade.
Seus textos são cativantes e venho sempre visitá-lo.
Beijoca.
Nilda.
http://meucantin5.blogspot.com/
nina rizzi disse…
meu bem, aonde afinal diabos, tu arranja essas imagens? são tudous ;)

é doido isso, né. ter alguém (pr)a cuidar. passar pomada. eu faço isso na nini. e por mim? elas às vezes e é engraçado. mas gostava de escrever com sangue no corpo (alheio). desenhar todas as insígnias que não sei. mas, EVOÉ, eu não possuo nada.

provavelmente estarei em bh em julho. que bom.

beijos :)
Edson Junior disse…
Olá, meu caro. O tempo para ler anda parco, mas tem valido a pena entrar aqui pelo menos para ver as fotografias que você tem postado.

Grande abraço.
Adriana Godoy disse…
Ê,menino, cuidado para não tragar muito fundo. Mais um texto duca...beijo.
Gustavo disse…
Com as paixões morreram junto os românticos. Há, existe, acontece, irrompe no ar, um conflito entre pós-modernidade e a tradição em Minas Gerais. A contradição, o choque, o impasse, o conflito, a incoerência, a oposição, a antinomia se dá, justamente por ser uma característica própria da pós-modernidade. Ou seja, esse conflito apenas aumenta, enquanto a sociedade pós-industrial avança, fazendo-nos voltar ao Século das Tradições.
seu Rasgadinho
litlle blue girl disse…
estou por perto...
BAR DO BARDO disse…
história de criança para vampiros...

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