O homem que carrego


Diário de um morto. E sabe de uma coisa? Você não vale o esforço de cortar papelão e fazer isopor cenográfco. Os homens descem a caixa fúnebre e vejo óculos e olhos que me olham. De repente a escuridão tomada em seguida por uma visão noturna, sempre por uma visão noturna que toma tonalidades de verde. Vejo meus pés e minhas mãos, minhas mãos cruzadas. Queria me mexer. Queria coçar a cabeça, coisa agonizante. Mas mãe, eles não vinham me levar daqui? Um dia qualquer bicho vai entrar no meu nariz e eis que esse dia chega. Um centípede vasculha vagarosamente a cavidade oca da minha cabeça descerebrada. Saiu pelo buraco do meu olho direito. Sinto-me o mesmo e joga fora o duro cortex. Mesmo que eu fosse cego ainda teria uma visão ampla dos acontecimentos.

Comentários

Anônimo disse…
Cirilo de Alexandria, que era árduo acusador dos gnósticos nestorianos, em 444, dizia que as mulheres eram duplamente honorificadas: através de Maria Madalena, sua representante, todas as mulheres foram perdoadas pela transgressão de Eva e porque uma mulher fora testemunha da ressurreição.

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