O homem que carrego
Diário de um morto. E sabe de uma coisa? Você não vale o esforço de cortar papelão e fazer isopor cenográfco. Os homens descem a caixa fúnebre e vejo óculos e olhos que me olham. De repente a escuridão tomada em seguida por uma visão noturna, sempre por uma visão noturna que toma tonalidades de verde. Vejo meus pés e minhas mãos, minhas mãos cruzadas. Queria me mexer. Queria coçar a cabeça, coisa agonizante. Mas mãe, eles não vinham me levar daqui? Um dia qualquer bicho vai entrar no meu nariz e eis que esse dia chega. Um centípede vasculha vagarosamente a cavidade oca da minha cabeça descerebrada. Saiu pelo buraco do meu olho direito. Sinto-me o mesmo e joga fora o duro cortex. Mesmo que eu fosse cego ainda teria uma visão ampla dos acontecimentos.
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