Diário de um iconoclasta
Fogo na fogueira! Toda segunda-feira é como um prolongamento do domingo. Segunda é uma versão macambrosa do domingo, porém, em que as pessoas têm que trabalhar. Com o advento da Modernidade, vejamos, a Revolução Industrial determinou um “horário de almoço” para alimentar as máquinas humanas - uma das primeiras tiranias do Tempo na era moderna. A Modernidade foi um verdadeiro laboratório sobre as atividades do ser ligado ao tempo. Por isso escrevo sem parágrafos. A pós-modernidade ainda não definiu uma resposta a esse problema. Alguns corajosos se atrevem a dizer que exterminaram o Tempo e que só existe o Espaço porque a informação é medida fluidicamente. O mito de Kronos devorando seus filhos, eu compreendo, mas associado a isso a ideia de cronologia, a ideia de “cronofagia” um tanto me assusta. Então estamos sendo devorados? Devorados pelo Tempo e eu não sabia? Sim, o Tempo engole a carne. Com o tempo, o vento esculpe as pedras e na terra, o verme segue sorrindo alegremente, sem se questionar, pois está no “corrente” do Tempo. Estou a escrever como um profeta. Esse aforismo foi digno de Kalil Gibran. Voltando à realidade, essa é uma que se move de maneira instável, devido às circunstâncias que compõem tal realidade, devido aos signos que ela emana. Se uma pessoa aprende a ler após idade avançada, o que determina essa perda? Onde foram parar os anos de ignorância? “Está cronologicamente errado” sussurra a sociedade, ou grita estentoricamente. Sim! Forte e retumbante, ó pátria amada! quero comer-te, sobe em mim. Quero abraçar-te e lamber-te os seios pequeninos. És mãe gentil. Pra quem não aprecia a arte, até que os chineses fizeram cartazes bem bonitinhos. Em uma revolução comunista em qualquer país, eu e outros artistas seríamos a primeira leva a ser exterminada, com a pungente afirmação de sermos "parasitas sociais", excrecência ornamental dispensável. Não que eu seja a favor da arte comercializada ou prostituída. Ou seja, em um país analfabeto-funcional, estamos fudidos. E dessa ignorância, todos os tiranos da história lançaram mão. Se não estamos fudidos? os derrotistas dizem que sim, os orgulhosos dizem que não. Os derrotados ou afogados na sacro-santa pia batismal da Indústria Cultural, não dizem nada. Aqui em Minas, por exemplo, nascem cem artistas e morrem cento e um. Uma dezena por milhão alcança alguma visibilidade...
Porquanto, nenhum grito humano reverbera não há revolução ou água que se beba. Bem, agora tenho que ir...
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