Tempus Fugitiv
Cai a chuva, fina e última. Encaro o derradeiro momento como um fugitivo do tempo. As escolas de samba me dão certo enjôo. A fina chuva combina muito mais com as notas caídas. Esse verdadeiro lirismo derramado, cansado, sofrido, tênue, suave, me deixa. Escrever aqui não faz mais sentido. Escrevo sem nexo. Essa enxaqueca passa pela pauta do improviso. O sopro e o braço arqueado do garoto são coisa expressiva. A dor na cabeça minerva. Já deitei no escuro por mais de duas horas, em silêncio. O carnaval me deixa tenso. Não há nada na TV, apenas carnaval das mais diversas maneiras que se possa imaginar, das mais diversas formam que possam explorar a indústria da fantasia e alegria. Imagino-me mentalmente sozinho, sentado em um pub vazio tomando um trago. Esse jazzinho macio e Miles Davis ao meu lado. Sozinho por dentro. Cheio por dentro. Cheio de palavras, contos, casos e cheio até de ladainha que despreza e que desdenha. Aguardo que venha a aguda intercessão dos mortos de mim mesmo. Entendo que caiba um seguro-saúde nesse caso. Receio transcender o Zen. Temo que ninguém entenda o silêncio quando eu falo. Por isso calo. Por isso me entretenho com a superfície mentirosa. Por isso descarto vírgulas, inverto verbo, invento vocábulos. Alguns caracteres a menos, sim, farão falta. Amo pelos meios, meus pequeninos e desbotados floreios.
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