Oi querida. Oi falsa.
Certa vez estávamos atravessando a Praça Rodoviária, saindo da antiga sede da secretaria de turismo – um prédio colonial amarelo, com eiras e beiras e jardim de inverno, em pleno centro rememorando os tempos da “cidade jardim”. Estava ainda inspirado pela visão daquele cenário burocrático, esquemático, mas em cuja estrutura ainda reina talvez o mesmo ar de passado, no instante em que a amiga da Pesseguinho me perguntou “O quê você faz?” (clássico). Eu sou poeta. – respondi sem pensar. (E você ganha dinheiro com isso? ela deve ter se perguntado. E o pior é que eu ganhava porque acabara de publicar meu primeiro livro que fez de mim um poeta-de-café e eu ganhava dinheiro dinheiro dinheiro com poesia. Agradando ao público. Amando e sendo amado, odiando e sendo odiado, andando pela via principal da linha marginal. Adquiri popularidade nesse burgo. Fiz várias dedicatórias que nem me lembro. Algo assim, “Oxalá te abençoe...” “Que o seu orixá te proteja...” em pleno prelo de afro-cubano assinei vários livros e citava Blake e Rimbaud, mas o clichê era meu, somente meu, ninguém mais desfrutava esse prazer. “Não comprem só pela capa” dizia. Eu fui o clown da cena, eu era o telúrio mimetizado das cabeças e evadia o local assim que fosse plantada a minha missiva radio-atômica naquelas 4 e 44 páginas, deixando um rasto de pólen azul.) Naquele instante que respondi “eu sou poeta” ela teve três segundos de paralisação cerebral para condensar a informação. Três segundos redarguiu com silencio estonteante. Enfim, atravessamos a rua.
Comentários
por ter gostado tanto do blog, já sigo e tb adiciono ao meu blogroll, abraço!
Você me emociona, porra. Também sempre sentirei sua falta. Toma para ti todo amor do mundo! Toma agora o amor que não pude dar, que não pudemos viver, mando-te agora embrulhado em lágrimas de nostalgia. Eu sou falível.
Acho que esses laços que nos ligam serão eternos.
Obrigada um abraço!