63 mistérios
Que saudade repleta de sentido.
Criando atividades para reduzir a lista de saudades. A janela que emoldura a
paisagem. Ladrão de entardeceres, os tons bucólicos sempre emprestam cor à
tristeza. E a noite revela seus segredos. Escrevo apenas aquilo me apetece. Que
nunca pede licença pra ir embora. Ainda sem saber, eu inventei você.
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Feliz Alento
Como vai, meu amor?
não sei, podes tu?
mudar à vontade
a convicção
Alheio aos porres de
bigorna
Assim se formam as
formas vivas
em que a matéria cobrou
em demasia
um pouco do meu estado
poético
não sei, podes tu?
mudar à vontade
a convicção
Alheio aos porres de
bigorna
Assim se formam as
formas vivas
em que a matéria cobrou
em demasia
um pouco do meu estado
poético
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Mas pelo fato de a poesia, em
comparação com o pensamento, estar de modo bem diverso e privilegiado a serviço
da linguagem, nosso encontro que medita sobre a filosofia é necessariamente
levado a discutir a relação entre pensar e poetar. Entre ambos, pensar e
poetar, impera um oculto parentesco porque ambos, a serviço da linguagem,
intervêm por ela e por ela se sacrificam. Entre ambos, entretanto, se abre ao
mesmo tempo um abismo, pois “moram nas montanhas mais separadas”. Agora, porém,
haveria boas razões para exigir que nosso encontro se limitasse à questão que
trata da filosofia. Esta restrição seria só então possível e até necessária, se
do diálogo resultasse que a filosofia não é aquilo que aqui lhe atribuímos: uma
correspondência, que manifesta na linguagem o apelo do ser do ente.
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Vejo que todo mundo tem um
dilema. A minha pena incansável pena. Escrevo carta pra mim mesmo. Escrever é
tão difícil apunhalar o pensamento. Minha caligrafia agora voa como flecha. Estou
tão canibal que sempre que escrevo penso em comer animalescamente, entende?
Como disse um professor “o que não é predecessor é sucessor...” E assim segue.
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Tô com uma insônia
de merda esses dias. Parece que as coisas não acontecem e de repente se
acontecem e tecem a longa rede da realidade que vai se alternando entre bons e
maus momentos. Vai-se acalmando como uma lenta, leve, suave melodia que dorme
ao meio dia, vai-se do aéreo da mais culminante nota no tom mais elevado do
jazz, da batera, do tumtum, papum, e acaba no piano ma no molto, alegro ma
no molto, presto ma no molto, adágio. Lembrei da minha incansável
stamina para certas coisas. Enquanto a fenda da vida não se abre, tudo corre rápido,
vai e acaba. A música e recomeça, e eu, meio tonto, não ligo, relaxo. É assim.
Não me leve a sério, permanece o mistério. Suave aroma de cânfora, chocolate e vinho.
Perfume françês e cafezinho pra depois. Rememorando aromas.
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Como acordar? Acordo pela manhã
com dois sóis. Se eu pudesse ser apenas dois, mas não consigo, não dá, não
posso, e sigo assim sem poder-me desmultiplicar. A Manú disse que me viu. A
Simone sumiu. Mudou pra Brasília. Ah se eu soubesse a cavidade triangular super
swipple flex. Havia tantas horas sem sono, sem sonho, sem drama, sem cama, sem
ninguém pra pegar no joelho. Sabe, Manú mando um beijo, mas esqueci de dizer.
__não fica assim.
__mas você sabe, aldeia é tudo.
__sim, eu sei. – e saio
descontente.
Mas de repente vem uma sensação
gostosa de plenitude, aconchego e orgasmo pleno.
Se torto, eu sei. Escrevo aqui.
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Hoje costumo dizer que muito é
pouco é muito é talvez até muito pouco. Quantas vozes temos nós? O sonho
dourado do iluminismo não vingou. Hoje sei que a opinião é volátil ou
distorcida. Não sei se temos muita opção, não há para onde fugir. Devo pastar
devo postar devo. Não sei se quero estar em cima ou em baixo. Não sei quantas
vezes a dor foi mais sutil que as palavras. Nem sei como referir-me a elas, ou
eles, não há gênero. Sentimentos... Como saber? Como dizer como são? Já não
sei, já não sei. Como transformar a passagem das horas em momentos bons? Deve
ser assim... quem souber me telefona.
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Escusame
Eu por mim mesmo
Na pele de outro alguém
Vivo sonhando,
mas você não vem, não vem.
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Desejos de ser
distinto
adj.
1. Que não se pode confundir com outro.
2. Que não faz parte de outro.
3. Que forma corpo à parte.
4. Claro, perceptível, inteligível.
5. Singular, notável, ilustre.
6. Gentil, elegante, primoroso.
7. Que revela fina educação.
8. Ficar distinto: receber distinção (em exames escolares).
adj.
1. Que não se pode confundir com outro.
2. Que não faz parte de outro.
3. Que forma corpo à parte.
4. Claro, perceptível, inteligível.
5. Singular, notável, ilustre.
6. Gentil, elegante, primoroso.
7. Que revela fina educação.
8. Ficar distinto: receber distinção (em exames escolares).
Meu espírito de gato deseja ser todos esses adjetivos. O mesmo, através de tantos, através da caridade. Deseja ser gracioso, gentil, elegante, engraçado, pictórico, generoso, único, singular, original, nobre, elegante, aristocrático, unívoco, categórico, excepcional, incomum, extremo.
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Como tratar o indecifrável?
Eu nunca estive preparado. Mesmo assim a
vida segue seu rumo, fatalmente, ao mesmo tempo em várias direções. Não importa
que a vida seja mesmo essa aventura. O que importa agora é sentir-me vivo.
Estou preparado pra o que der e vier ao meu encontro. Porque hoje amanha será
passado.
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BEAT PARALELOGRAMO. Andar pelas ruas, as
mesmas ruas. Estar sozinho ou acompanhado, viver uma realidade paralela. No
meio das pessoas, pareço tão louco quanto devo ser. Perto de mim, meus vários. O eu de pé, o eu de chapéu, o
eu sentado esperando os vários minutos calados passarem com imprecisão. Ando
durante o dia. O eu que vai pela noite durante a noite pela noite. Dia-a-dia,
espero-te à tardinha, quando nos encontraremos felizes a olhar o céu, que vai
nos encher os olhos de nuvens. As lágrimas escorrem da exultação mórbida de um
luto. Perdido no globo que eu não me encontro. Não peço informação, mas não faz
diferença. Estou inerte, indiferente a tudo isso. Vivendo como criatura da
noite. Observo os desejos de amor, os delírios de amor, amor contido no vazio
do ego que implora alguma existência. Histórias que trazem um personagem
oculto. Amores que fazem da vida o pior e o melhor da vida. Litígios da
aproximação.
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AINDA DEGLUTINDO UM COMEÇO. Desaninhado,
sentei bunda no quartinho onde me cabia inspiração àquela hora. Tentar ficar
mimetizado ao máximo. Escondido, confuso como um ratinho. Calado, quietinho.
Com medo de mim, medo de me incomodar. Tentando ser contido com as lágrimas de
nostalgia, pensando no que jamais seria. Ausente aflito, compungido,
atormentado, atribulado, descontrolado, entristecido, desolado, consternado,
puto.
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Confissões à Lua
meus dias de amanhã
feitos de vários ontens
feitos de vários ontens
concretização de coisas
cotidianas
cotidianas
e as horas vãs
preenchidas pelo medo
fazem a insanidade do tempo
preenchidas pelo medo
fazem a insanidade do tempo
me dissem coisas ao pé do ouvido
coisas que eu
não posso entender
coisas que eu
não posso entender
um lamento
um blues dolorido
lembrar do passado
me deixou entediado
um blues dolorido
lembrar do passado
me deixou entediado
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Os pratos se quebravam e não era um
casamento grego. O Cigano esteve aqui em minha casa e eu lhe presenteei com uma
foto, uma revista, uma meia e uma cueca. Era noite de esquecer-se de tudo. O
começo da decomposição. Noite de esquecer você e extirpar com a navalha alguns
miomas intelectuais.
56
Che arrivare
Volto às coisas do cotidiano, inclusive
às fúteis. Absolutamente neutro aos seus relatos, enfim. Perco-me nas palavras
duplas, perco-me na sua artilharia. Não sei me defender. Uma sorrateira pilha
de nada, nada vai me atingir. A sua pura nudez e nossa nudez a brincar sozinhos.
Somos ilhas, em poucas troças e muitas doses. Não desejo o golpe. Cuidado com a
malandanza. Cuidado com as noites que
chegam de repente.
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Confissões de um cunilíngue.
Então conseguiu ficar e manter-se
mimetizado. Cores com seus porres invejáveis, sincero amigo, singelos em sua
boemia. Andando pelas ruas, sem pressa, sem medo do esquecimento. Sentindo os
ares da Praça da Liberdade, suas árvores, seus jardins, suas fontes. A
distância afetiva é como ontem. No jazz, madrugadas fria, distante, secreta,
escondida, segura, anônima, sem fim, e o tempo ousa não passar. O tempo afetivo
insiste em continuar. Vomitei o passado e vi fugi de ônibus. Casa casa não tem mais, depois de anos. Fui
fraco, um verbário. Calado, afônico, monossilábico.
58
Pedaço de mim que estava preso na
garganta, saiu como fumaça de rancores, raiva, desejos de vingança,
alucinações. Vociferando ao léu, no púlpito das intrépidas memórias, palavras
ordinárias contra a dor. Saudades e ódio, para inutilmente tentar fugir de um
desmoronamento. Túneis e pontes, conexões entre o passado e o presente na
cachoeira de domínios. Quando os seus olhos de menina vulnerável à sombra de um
desdenhoso anjo libertário. Confiar em mim foi como mentir uma traição
cotidiana que nos acometeu durante algum tempo. Tempo demasiado denso desde o
princípio. Aurora após aurora, quando ainda nenhuma manhã sublinha essa
lembrança, evolve-me o olvido. Falta-me o seu ventre, suas coxas e as minhas
coxas, o seu misterioso riso de mulher. Falta-me a nossa cama para o meu longo
cansaço. Falta-me a sua vagina ensolarada para ancorar a minha vergonha de ternura.
Espera em sua casa, nessa espessa noite que atravessa.
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Para Antonin Artaud
Tentando organizar minha casa
mental. De repente tudo fica confuso, como o meio de jogo de uma partida de
xadrez. Referindo-me, ferindo e sendo ferido de morte todos quase todos os
dias. Morrendo e acordando com medo ou pânico ou preguiça, covardia,
ineficiência, turbilhão mental, falta de trabalho, falta de iniciativa, falta
de criatividade para iniciar algo que vacila entre o sacrifício e a felicidade.
Gerundiando... Dificuldade em ser feliz, dificuldade em fazer feliz.
Deus me ajude.
60
Para entender as mulheres é preciso
entender de cores, é preciso entender as fases da lua, é preciso entender. É
preciso ter um olhar holístico sobre todas as coisas, sem coisificar os seres
vivos e tampouco dar vida aos inanimados, mas sabendo que, mesmo estáticos,
todos participam do movimento. Não circular nos altos e baixos da régua da
história. Personagens vivificam a cena do príncipe e a princesa espera a lua, cheia
de melindres. Para entender as mulheres é preciso informar-se de nuances, de
matizes de cores, da mudança de luzes. Qualquer logaritmo concebido para
conceber. É preciso saber a resposta da pergunta, ainda que essa seja
icognicível. Colagem de pedaços isolados, rasgados, mas que juntos estão em
harmonia. Um olho daqui e o nariz na linha do horizonte, sempre a sorrir e a
piscar ao mesmo tempo. Junta os retalhos e recomeça a costurar. Começa a cerzir
metáfora com possibilidades.
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Pequenas paisagens guardadas nas
gavetas da memória, fazendo alusão ao título das noites passadas. Pequena
menina azul, você agora descansa em outros braços. Agora a noite dança em seu
compasso. Melodia previsível sem palavras. Digo-te em segredo que há um altar
quando acordo, durante do sono cortado por uma poesia subconsciente. A situação
de vulnerabilidade física talvez não seja consciência de todos nós. Duas
estrofes, de três versos e se perdeu e em alguma gaveta. Nada desabona as
palavras. A mesma paisagem de prédios e
janelas, luzes acesas, lua minguante. Zomba de mim com seu sorriso amarelo.
Você liga pra me procurar onda anda minha vida? Quem é essa galera? Você se
esconde. A quem mostraria sua realidade? Como tentar esquecer uma sina, um
acidente climático. Feito tentar esquecer a realidade, feito rasgar uma carta
antiga, um recado que não significa mais nada. Os sinos tocam à mesma hora, um
dia mais.
62
O mistério que envolve esse
teorema envolve esse enigma e sempre se repete à mesma volta. Você bebe a água
e eu te bebo. Fico ébrio. Você coloca suas pernas sobre as minhas coxas e eu
sinto o seu sexo. Quero engolir sua boca, mas você me beija mais do que eu te
beijo e eu adoro. Sinto teu seio pequenino de ninfeta, arrepiado e duro no
escuro. Você embriaga-me como quem nada quer e bebe pra matar minha sede.
Parecem intermináveis as horas feito minutos. De tudo esqueço. O trabalho
inexistente esquece-me de hoje de ontem de antes de ontem. Esqueço que me
maldiçoou com sua soberba, sua irracionalidade, com seu atavismo. A vida
importa. A vida importa porque suas maluquices de ninfeta fazem-me ter mais responsabilidade.
Adoro seu cabelo todo lindamente atrapalhado sobre seus olhos sobre o meu
rosto. Seu beijo é o gostoso no caminho percorrido ao instante eterno, efêmero
e derradeiro em que te quero. A paisagem, essa fogueira elétrica ao lado da
cama e você. A Lua lá fora espreitando nosso desejo com sorriso de Gato. Nesse
momento quero esquecer meu passado. Quero esquecer outras luas, outras
primaveras, outras trepadas, outros beijos. Nessa hora você se entrega e sobe
sóbria sobre mim. Eu, bêbado de ti. A palavra, nada diz. Não importa que devore
minha alma.
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