abaixo embaixo
Faz alguns anos eu não vejo o
mar, uma impressão única para nós que vivemos distante do litoral. Faz pouco
tempo, minha namorada foi de encontro ao mar. Aqui de longe, talvez
inconscientemente, nesses dias em que ela esteve fora, me pus a procurar a
conchinha mais bonita entre as que ficam guardadas em um vaso – lembrança do
tempo em que íamos quase todo ano pra praia, pai e mãe, irmãos, e catávamos conchinha.
Somos da geração anterior ao advento da sustentabilidade ambiental. Acho que nem se encontra mais essas
conchinhas, nas praias brasileiras, um tanto por conta de gente como nós.
Eu pensava no mar. Chegava a sentir.
As ondas lambendo meus pés num vai e vem sem fim. Pensava na linha do horizonte, na imensidão...
Podia sentir meus olhos marejados de água salgada. Sentia o ar mais denso, a respiração
mais leve. Na água de algum mar
rememorado refletindo o brilho das estrelas, pensava. Sensação de calma combinada
à magnitude do vazio. Porem, não há maiores desertos em meu caminho. Somente o vazio,
imaculado, pronto para procriar.
Espaço onde nada ainda aconteceu,
o momento mudo, onde coisa nenhuma ainda foi criada, fabricada ou concebida. A ação,
nem mesmo a despeito de ainda estarmos sujeitos à fisicalidade dos corpos, nem ela
mesma tem nome ou pode-se nomear. Se dilatada ou retraída, qual tanto se pode aferir
significação? Antes do Nada era o Nada. Um Nada maior ainda. Ou menor? Segundo
a dialética vigente e mais conexa de que somos resultado da grande viagem cósmica,
a matéria reduzida ao tamanho da cabeça de um alfinete e Bang! De repente tudo se
apossou do Nada e o Todo se formou. Todas as coisas.
Comentários
destrocemos a língua, a começar pelos olhos...
diga algo, por favor.
esssa hora me dá sono...