sem mim
Pedaço de mim que estava preso na garganta, saiu como fumaça de rancores, raiva, desejos de vingança, alucinações. Vociferando ao léu, no púlpito das intrépidas memórias, palavras ordinárias contra a dor. Saudades e ódio, para inutilmente tentar fugir de um desmoronamento. Túneis e pontes, conexões entre o passado e o presente na cachoeira de domínios. Quando os seus olhos de menina vulnerável à sombra de um desdenhoso anjo libertário. Confiar em mim foi como mentir uma traição cotidiana que nos acometeu durante algum tempo. Tempo demasiado denso desde o princípio. Aurora após aurora, quando ainda nenhuma manhã sublinha essa lembrança, envolve-me o olvido. Falta-me o seu ventre, suas coxas e as minhas coxas, o seu misterioso riso de mulher. Falta-me a nossa cama para o meu longo cansaço. Falta-me a sua vagina ensolarada para ancorar a minha vergonha de ternura. Espera em sua casa, nessa espessa noite que atravessa.
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