Máquina dentro imediata


Descobre nele o afogo. Meu quarto está escuro, sem lâmpada. Acabamos de nos mudar. Já fazem duas semanas. Uso a luz do abajur durante o dia. Incapaz, agora dentro ainda, de disfarçar que daquela bomba motor coração, outra linguaguem. Que, sem nenhum coração, vive a esgotar gota a gota, o que o homem possa ter na última poça. Nem sei que horas escrever e sobre qual assunto. Penso que é o meu pequeno jeito de desafogar as angústias. As impressões tornam-se angústias temporárias se não as registro... Ouro Preto, Festival de Inverno - eu tinha dezoito anos. Vamos jantar. O lugar, Rua do Rosário 47, Largo do Rosário. A entrada é discreta. O interior supreende. Pergunto a quem veio nos atender "Você gostaria de nós indicar uma mesa?". Somos vários, porém discretos e acanhados. Imediatamente, após uma ligeira contagem com os olhos, ele nos conduz à mesa. Situada no piso inferior da taberna, disposta abaixo de três lances de escada. Apesar de tudo tínhamos uma visão privilegiada do ambiente em geral. Visto que abaixo de nós só os ratos. Víamos no segundo piso, uma espécie de mesanino de pedra, as pessoas, silencioas, comerem e beberem seu bom vinho. E mais acima noutro mesanino ainda menor, transformado numa espécie de palco, tocava um trio de sonatas e medieval. Novamente não sabíamos se era permitido cair na gargalhada e tentar fingir que falávamos de nós mesmos... Por isso nem tentamos. Comemos e bebemos com o riso torto. Depois que saimos bebemos umas poucas e boas garrafas de vinho, já de riso solto nos misturamos com o povo. Ouvimos jazz até o amanhecer. Quando o dia clareou éramos poucos no bar de grego que conhecemos. Tomando drinks coloridos em pequeninos copos... ygeía! O grego era uma peça e o bar dele parecia um atiquiário, uma volta ao passado. A esposa dele, uma brasileira que viveu com ele mais de dez anos na Grécia, e muitos olhos gregos e muita tradição e muita mistura de tudo que há.

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