meu último fôlego de domingo
A noite vem, em silêncio e cruel e não adianta falar do mesmo assunto, cantar o mesmo hino. Ninguém me canta canções de ninar, ninguém me faz fechar os olhos. Facil como é difícil ver o que está acontecedo depois de um tempo. Um sorriso fácil, mas no fim você virou as costas para mim. Desde então, nos meus sonhos, é como
se estivéssemos sempre nos despedindo, sempre nos despedindo. Você vai e eu fico olhando, contemplando,
vagando em outras paisagens que nascem a partir de você. A partir da sua melodia. Queria que você conhecesse um dia. São lugares onde
poucas pessoas foram, andaram pelos trilhos, seguiram os mesmos passos. Mas,
não por acaso, andamos sozinho sem nos darmos conta disso, quase até ontem. Então vamos
vagando cada vez mais distantes. Para algum lugar, um sonho, talvez uma nota de
piano, algum lugar confortável da imaginação. Além da imaginação deve haver algo
escrito. Última mensagem indecifrável escrita com batom no espelho de um
banheiro público. Porque os ecos da noite são assombrados. Porque os gritos,
ouvidos no silêncio, causam arrepio. Não está na maldita hora de ouvirmos
gritos no silêncio ou sentirmos arrepios. E os ventos viuvando nessa época do
ano como um dia qualquer. Não sei dizer. Mas aí você diz. Você diz algo que eu não
consigo entender. Surgir? Sair? Dormir? Eu não entendo. Não entendo. É automático
que eu deixe de entender. Quase mecânico. Um medo a menos.
Comentários