Para Mardou - Ginsberg e o fax da LP&M
Eu só queria dizer um breve adeus. "(...) sentei em uma café chorando e escrevi para minha mãe (...)"
Adeus
com longos sapatos pretos
Adeus
corsetes sedutores e
costeletas de aço
adeus
partido comunista e meia furada
partido comunista e meia furada
Ó mãe
Adeus
Adeus
com seis vaginas e olhos
cheios de dentes e uma longa barba negra ao redor da vagina
Ó mãe
adeus
incapacidade ao piano de
concerto ecoando três musicas que você conhecia com amantes ancestrais Clemente
Wood Max Bodenheim meu pai
adeus
com seis cabelos pretos no
cisto dp seio
com barriga caída
com seu medo de vó
rastejando no horizonte
com seu olhar de desculpa
com seus olhar de mandolins podres
com seus olhar de mandolins podres
com seus braços de gordas
varandas de Paterson
com suas coxas de
políticas inevitáveis
com sua barriga de greves
e chaminés
com seu queixo de Trotsky
com sua voz cantando para
os trabalhadores quebrados apodrecidos
com seu nariz cheio de
cascas e com seu nariz cheio do cheiro de picles de Newark
com seus olhos
com seus olhos de lágrimas
da Rússia e da America
com seus olhos de tanques
e lança chamas bombas atômicas e aviões de guerra
com seus olhos de porcelana
falsa
com seus olhos de
Tchecoslováquia atacada por robôs
com seus olhos de America
caindo
Ó mãe ó mãe
com seus olhos de Vovó
Rainey morrendo numa ambulância
com seus olhos de Tia
Elanor
com seus olhos de Tio Max
com seus olhos de sua mãe
nos filmes
com seus olhos de fracasso
ao piano
com seus olhos sendo
levado por policiais À ambulância no Bronx
com seus olhos seus olhos
de loucura indo pra aula de pintura na escola noturna
com seus olhos mijando no
parque
com seus olhos gritando no
banheiro
com seus olhos sendo
arrancados na mesa de operação
com seus olhos de pâncreas
removido
com seus olhos de aborto
com seus olhos de operação
de apêndice
com seus olhos de ovários
removidos
com seus olhos de operações de femininas
com seus olhos de operações de femininas
com seus olhos de choque
com seus olhos de
lobotomia
com seus olhos de derrame
com seus olhos de divórcio
com seus olhos sozinha
com seus olhos
com seus olhos
com sua morte cheia de
flores
com sua orte da janela
dourada de sol...
Allen Ginsberg
As cartas
As cartas
O fax que recebemos de Allen Ginsberg
No dia 27 de janeiro de 1984, um facsimile (o antes popular “fax”, uma espécie de e-mail do tempo das cavernas) adentrou a L&PM trazendo algumas páginas escritas em uma caligrafia apressada. Endereçado para o tradutor Claudio Willer, o fax trazia comentários e apontamentos sobre a tradução de “Howl” (Uivo). Adivinha quem assinava aquelas páginas? Ele mesmo: o próprio Allen Ginsberg.
Guardado em uma caixa de lembranças, o fax foi resgatado ontem de uma gaveta, já meio apagado. Escaneado, trabalhado no photoshop para ganhar mais contraste, ele agora está aqui, para você ler. Basta clicar em cima para ampliar e… fazer força para tentar entender, já que a letra de Ginsberg não é exatamente uma letra de professora primária.
No prefácio de Uivo em formato convencional, Claudio Willer diz que “foi decisiva a correspondência que mantive, na época, com o próprio Ginsberg, mais a nota autobiográfica (Autobiographic Precis) enviada por ele. A seleção dos poemas e o plano editorial lhe foram apresentados. Ele os aprovou, comentou, deu sugestões e esclareceu dúvidas de interpretação do texto. Depois de publicado Uivo, Kaddish e outros poemas, passou a enviar-me as novas edições de sua obra, com bilhetes para o dear translator friend. Deu notícias até pouco antes do final, da sua morte na madrugada de 5 de abril de 1997.”
Guardado em uma caixa de lembranças, o fax foi resgatado ontem de uma gaveta, já meio apagado. Escaneado, trabalhado no photoshop para ganhar mais contraste, ele agora está aqui, para você ler. Basta clicar em cima para ampliar e… fazer força para tentar entender, já que a letra de Ginsberg não é exatamente uma letra de professora primária.
No prefácio de Uivo em formato convencional, Claudio Willer diz que “foi decisiva a correspondência que mantive, na época, com o próprio Ginsberg, mais a nota autobiográfica (Autobiographic Precis) enviada por ele. A seleção dos poemas e o plano editorial lhe foram apresentados. Ele os aprovou, comentou, deu sugestões e esclareceu dúvidas de interpretação do texto. Depois de publicado Uivo, Kaddish e outros poemas, passou a enviar-me as novas edições de sua obra, com bilhetes para o dear translator friend. Deu notícias até pouco antes do final, da sua morte na madrugada de 5 de abril de 1997.”
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