Entrevista
Fui fazer uma entrevista com Weisse Katze, depois dos cumprimentos e antes mesmo de deixa-lo acender um baseado, fui pegando a minha pauta e pedindo logo um tempinho. Na primeira pergunta, ele não deixou que a completasse, respondendo: “é culpa do ser humano”. E desconfiado perguntava sempre: “você está anotando tudo aí, né?”.
Superficial, super ficcional, paradoxal e intuitivo. Lendo um pouco de Weisse Katze todos esses elementos se desvanecem em um texto coerente, melancólico e bonito, como numa batida de jazz. Pode alguém só existir quando escreve? Alguém que, se escondendo atrás das letras, quer se revelar a cada instante.
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UMA FESTA PAGÃ para um deus paN. As horas passam. A dor não volta atrás, acelera. Um grito de mulher quebra o silêncio da madrugada. Correr como um lince, morrer no asfalto.
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AQUELA NOITE NÃO FOI apenas uma noite, foi a noite da ‘lei seca’ em que uivamos pra lua no terraço do quarto da casa da Bailarina. Sentia nas veias sujas de sangue sujo avinagrado aquele amor impossível, inviável e antagônico. Apesar de, por dentro, minha revolta com a vida, com o mundo, a minha revolta enlouquecida de álcool, de vinho, de cachaça, uísque e velho barreiro, ouvindo Billie Holliday, Chet Baker e Marvin Gaye... Não pude evitar de tocar aqueles seios negros, sentir o amor estranho amor entre eles. Meu amigo me perdoe defini-lo, ou melhor, não defini-lo um homossexual indefinido de muita força vital, do homem, e do lado feminino estranhamente forte. Essa noite a Bailarina jogou as cartas para ele. Brindamos com bom vinho, cantamos e choramos juntos, à vida. Eu também não podia definir, aquela beleza negra psicoanalizada; aquela beleza negra que já leu filosofia e que, de vida, entende um pouco; aquela voz um pouco rouca e eu, um pouco louco. Não, não estava ao meu alcance entender aquele amor. Um amor de épocas passadas, um amor condenado, um amor de complacência, um amor que nada encontra em si mesmo além dele próprio. Que goza pelo Cu. Que ama uma mulher e um homem. Não eu, ele.
Weisse Katze
Dublês de Poeta: O que você está fazendo agora?
Weisse Katze: Abri um blog que vai fazer parte de uma crítica ao Capitalismo. Vão ser publicadas sob o título de “Profissão e Sacerdócio”. São dois ensaios condensados em um só, “Juventude, ideologia e política”. Tem conexão, não tem?
DP: É poesia?
WK: sim, agora enveredando pela prosa, mas a poesia é sempre maior, por ela ir de encontro ao acaso. Mas de qual prosa estou falando? Porque isso consiste em dizer necessariamente que falaríamos da prosa poética. É melhor ser poeta do que escrever poesia.
DP: Viver como poeta?
WK: Mudar os panoramas, seduzir. Registrar isso no papel não é o objetivo central do poeta. O objetivo central do poeta é ser poeta. Aquela coisa: “Deus é um grito na rua”. A personalidade, poética, sabe o que é isso?
DP: Então por que escrever?
WK: Não sei. Isso marca, estigmatiza e pode até durar uma geração depois, seilá, bem depois.
DP: Quando li “Uma Cidade Meio-Nula”, do livro 4x4, lembrei de Menphis.
KW: Primeira coisa que veio na minha cabeça foi dizer Belô, mas, existem nulos. Outras coisas que me anulam. No fundo a cidade é você mesmo. É Menphis, no Egito. Não Menphis do Elvis, a original mesmo. E sabe o que tem de interessante lá? Nada. Nem conheço. É o nome mais bonito depois de Dublin. Você sabe que mesfisto é a voz do capitalismo, né?
DP: Mesmo você dizendo que não, tem muito humor no que escreve. Isso é uma forma de humor?
KW: Prefiro um tipo mais sutil de sarcasmo. Satiricon, Petrarca.
DP: Eu falo isso porque você é muito engraçado.
KW: eu acho ótimo, devo agradecer? (risos)
DP: Você é uma sátira de algo que eu desconheço o original. Sem um pouco de sátira não existe Vinícius de Moraes.
(Weisse Katze começa a recitar Vinícius, faz uma pausa para dizer que são 23 horas e 23minutos, e que isso era muito interessante, e volta a recitar Vinicius)
De repente do riso fez se o pranto / silencioso e brando com a bruma / das bocas unidas fez-se a espuma / e das mãos espalmadas fez o espanto / de repente da calma fez-se o vento...
WK: existe um Sarcasmo nisso, nos versos finais.
Fez se triste o que se fez amante /e de sozinho o que se fez contente.
Talvez fosse mesmo um sarcasmo recitar Vinícius as 23:23h. Mas sempre foi assim, como uma indecifrável festa pagã. E se é indecifrável e efêmera toda festa, é culpa do ser humano.
Comentários
Beijos tb.