Transparência
Pequenas paisagens guardadas nas gavetas da memória, fazendo alusão ao título que dou as noites passadas, Litlle girl blue. Você agora descansa em outros braços. Agora a noite dança ao seu compasso, ao seu ritmo, sua assimetria. Melodia previsível nesse sair de si sem palavras, nesses gestos de nada a ser jogado na rua, a ter os braços arranhados, a viver de uma lembrança que precisa rir, precisa sair de mim, precisa ir, deixar-me um pouco em paz. Não sou o pobre nuem o mais capacitado a nada, neste caso sou uma reciclagem de mim mesmo. Começa de estar diante de si somente. Como um corte de seco de navalha a voz falha. Calado, eu mudo e mudo, eu sumo... Faço em mim seu próprio túmulo, e rezo sobre o que me restou de você e deposito as rosas amarelas que comprei ontem à noite. Te digo em segredo que há um altar em meu armário que eu fiz em segredo e guardo. Ouça. Essa melodia diz de si mesma da mesma forma que me lembro de você. Cá estou, distante e jazz. Na carne em pensamento, navalha.
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Comentários
E aí quando perdeu, e quando foi solenemente rejeitado, veio toda essa danação.
Perceba,
até quando você escreve, você faz uma escolha, e algo seu se perde aqui. Drummond fala disso com a beleza da poesia:
"Não, meu coração não é maior que o mundo...é muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
E por isso gosto de me contar,
por isso me dispo,
por isso me grito..."
Saber viver É SABER PERDER sempre. Aquilo que se ganha é sempre da ordem do imponderável.
Quando você aceitar a novidade que é perder, e reconstruir, e que o mundo não está aí para prestar-lhe favores o tempo todo, toda esse círculo vicioso chegará ao fim.
Até lá, haja paciência.
Pois todos sabemos que você nunca acha que age errado com a própria vida e com a vida alheia, principalmente.
Freud dizia que a gente deposita as fantasias no outro para uma possível restauração do nosso narcisismo primário, ou seja, a recuperação daquela onipotência dos primeiros tempos. Mas como isso não é possível a realidade se instala e revela o que estava sendo negado: a falta. No entanto, nem sempre essa percepção leva ao amor. Ao contrário, ás vezes, é aí que ele morre-ao não aceitar a temida incompletude.
E os teus olhos.
E as tuas mãos.
E a tua boca anda mentindo.
Enganada pelos teus sentidos.
Faze silêncio no teu corpo.
E escuta-te.
Há uma verdade silenciosa dentro de ti.
A verdade sem palavras.
Que procuras inutilmente,
há tanto tempo,
pelo teu corpo, que enlouqueceu.
A paixão é esse estado maravilhoso onde ficamos tolos, débeis. O amor é " descanso na loucura".
Lacan ao dizer da paixão, nos fala de um êxtase de si no outro: egoísmo descentrado, dilacerado, cheio de vazio. Sentimento bonito , porém uma ultrapassagem se faz necessária.
Surge o amor.....
E o que há no amor?
A cumplicidade, o humor, a intimidade do corpo e da alma, o prazer visitado e revisitado.
Há as solidões tão próximas, tão atentas, como que habitadas uma pela outra, como que sustentadas uma pela outra.
Há essa alegria leve e simples, essa familiaridade, essa evidência, essa paz, essa luz.
Há um silêncio, uma escuta, essa força e essa abertura de ser dois, essa fragilidade de ser dois.
Amamos demais nossas singularidades para nos tornamos um. Amamos ainda mais a busca que a fusão, mais a completude que a incompletude.
Amamos demais as harmonias, os contrapontos, as dissonâncias para nos tornamos monólogos.
A paixão é fácil.
Apaixonar-se está ao alcance de qualquer um.
Amar não.
clap, clap!
bj
Nietschze
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Os tempos são outros, caro poeta.
Hoje o representante maior do "amor" é o umbigo ou o cu.
Os umbigos própios andam enlevados por si mesmos, e o do próximo que se foda ou que vá a merda.
As gentilezas e as educações estão em extinção e o que prevalerce é a grosseria daqueles que foram criados a leite gordo, neston e humildade zero.
O abismo está repleto de leite condensado, baba de moça, tolerância infinita. A tolerância que estraga e deseduca.
Por isso essa falta de sentido, esse tédio, essa busca do prazer nas coisas impossíveis.
Ah se a heroína fosse acessivel e barata! Muitos aqui já estariam mortos.
meu caro,
penso que estás a falar de si mesmo, desse "seu" abismo,dessa falta interior, falta de crença em São José, São João sob o luar do sertão..., Nossa Senhora (lembra da máxima do Murilo Rubião...). Sei que você é ateu, mas veja, a música é uma coisa maravilhosa, as cores, as palavras, sem essa escatologia chula para a qual alguns pseudo-iconoclastas usam.
Eu, como diz Fernado Sabino, acredito em jesus "mesmo que a mais alta tecnologia prove que ele nunc existiu". Falta de norte, todos nós vivemos essa "morte" diária e todos esses eufemismos inevitáveis. Amigo,
um abraço,
Gustavo
ps: fica com Deus...
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Comigo? Contigo?
Onde andará o sentido?
Sentado á beira do abismo?
Abismado com tanto cinismo?
Onde andará o sentido?
Sentado no cais a ver navios?
No meio do mar à deriva?
Onde o senido se esquiva? "
( Chacal)