Fragmento quarto caderno

[Dia 12 de Dezembro de 2014, mesmo dia do texto anterior]
Constatei que o tempo solitário da escrita é o meu tempo mágico, sonhado em um leito loquaz, o único tempo capaz de me salvar quando tudo em volta começa a ruir. O olho do furacão. As lágrimas escorrem dos meus olhos sem direção. Amanhã vai embora um amigo e já começamos os rituais de despedida. Ele me deu um shampoo e os poucos cabelos que ainda me restam agradecem. Força para o amigo que vai. Força para aqueles que ficam. Foi o primeiro amigo que fiz quando cheguei. Estivemos juntos em nossas mágoas de recém chegados. Estivemos juntos na saudade do mundo lá fora, no barulho, na tormenta. “tenho vontade de chorar” John comenta “mas não consigo” completar. Amainadas nossas mentes de toda insanidade que deixamos em outra vida, a angústia é inevitável. Queremos tocar um raio de liberdade que na de iluminar W.M. quando ele partir. Coração, o meu, os nossos ainda estão partidos. Dois saber que vai-se embora um grande amigo,  irmão e companheiro de jornada. Dois saber não tê-lo entre nós na rotina do convívio. Princípios agora vêm antes do personalismo. Mais um jovem que, como nós, não encontrava mais um sentido na existência. Aprendi a amar meu semelhante. “La fora” parece agora tão distante, mas estamos a apenas alguns passos do caminho. Vai, vai ser o pai amoroso de suas duas filhas. Elas precisam de você, dos seus ensinamentos. Precisam estar contigo, precisam do seu abraço, do seu amor. Precisam abrigar-se em teu peito. Assim como nós também necessitamos do amor do Pai Supremo. Também necessitamos de abrigo. Esse leito aqui agora é a parte que nos cabe nesse mundo. Vai construir sua nova vida, vai em paz. E não olhe para trás. Saiba apenas que as lágrimas que escorrem do meu rosto também edificam. Sua lembrança ficará entre nós.
Com a glória de Deus. Amém.
Do amigo,
Gustavo