Para Iákov

Hoje fui ao dentista. Foi rápido. Rápido também peguei o ônibus de volta pra casa. Ando feito bicho manhoso, só faço dormir o dia todo. Espero que o tempo mude e o sol apareça. Observo as nuvens como quem observa o movimento das marés. Aguardo com ansiedade o dia em que irei pro mato, navegar as montanhas. Minha vontade é caminhar pelas cristas durante o dia e à noite dormir nas tocas.
Hoje senti uma saudade enorme do pequeno Iákov. Foi preciso dormir para esquecer. Trago boas lembranças desde o dia em que o vi pela primeira vez. Ele será sempre o meu pequeno. Ele está sempre em meu pensamento.
Este ano completo três décadas de vida. Tenho pensado muito nos meus vinte anos. Tenho pensado na minha infância. Outro dia tive vontade de ver minhas fotos de menino. Após vasculhar os alfarrábios de minha mãe me encontrei, tão pequenino e inocente.
A palavra por mais abstrata que possa parecer, como uma maçã de cristal em uma floresta de vidro, é sólida. A solidão de quem pensa dentro de um mundo invisível.
Página virada, agora em branco, tem um novo começo a escrever. Evoco a forças dos meus ancestrais. Sei que esse ano vou me arriscar em tantas batalhas. Por isso o ritual diário de ficar só. Durante o dia faço a mim mesmo várias perguntas e tento responder a todas, mas nem todas têm uma resposta, ou uma resposta óbvia.
O gosto fica na ponta da língua, desconectado, distraído faz lembrar. Imagens, lugares e odores, memória afetiva. Hoje tive a chance de te reencontrar e espero tê-la feito sonhar novamente. Eu prometi que quando as feridas cicatrizassem eu começaria uma nova vida. Por ora, fico em mim mesmo. Mimetizado, observando. Invisível, se esconde atrás das palavras tentando se revelar a cada instante.
Mildred, lembro-me de você todos os dias. Nossa vida foi um grande reencontro e nossa vida a dois não passou de uma farsa que nos causou perdas e danos. Foi difícil ser aceito de volta na casa de minha mãe. Difícil é uma palavra que a parece nas minhas cartas proporcionalmente à minha dor. Mas estou farto de despejar recuerdos. Esgotado de todo falatório, de todo verbo. Guardo na gaveta
nostalgia e sonhos alquebrados. Um homem à deriva, meu pensamento voa no pano distorcido da realidade. Eu sei que a razão pela qual, a razão pela qual eu, a razão pela qual... Conduzindo os dias, rejeitando a hora viva, desenhando peixinhos no papel, rebuscando o banal, continuamente tentando, papagaio mudo cheio de sorrow e de mesmice. Como escrever quando não se tem nada a dizer? Se algo importa é a minha paz de consciência. Livrar minha consciência das incontáveis noites de bebedeira onde não havia nenhum navio branco, nenhuma mulher dançando, nenhum girassol de Buda.
Meus sonhos durante o dia são letárgicos, não ouvem, não falam. Agora todos dormem.
Dedico este texto a Iákov pela lembrança e pela convivência. Desculpe-me por tudo que não pude dar.
Um beijo fraterno,
>¨<

Comentários

Gustavo disse…
Alguém já voltou do carnaval?
>¨<
Anônimo disse…
Bonito. Meio Lya Luft. Já gosto do Iakov. Ficou nostalgico não.

Hoje eu conversei (audio) com a Liberté.

abrazoz.
Liberté disse…
don't ever be blue, boy. even a blue bird, don't need to be blue, or gray in life . just think about.

Be Amber!

Colors of energy.

PS: I thougth about you to day, such beutiful things that you said, and I felt so blue, confused, and now, as always, when we(every woman)see or read or etc, u, it's just great feelings.

Have a nice chine'year. Call me when u feel like ;)

No mais estou p da vida! por outros motivos.

PPS: tatazinha , meu novo apelido, eu mereço?
Bruna Gil disse…
hoje achei ainda mais bonito isso aqui.

que engraçada essa pergunta que você me fez, rs. eu durmo de lado. do lado direito, preferencialmente. tenho mania de colocar a mão direits embaixo do travesseiro e a esquerda dentro da blusa, pra ficar mais quente que todo o corpo. todo mundo tem manias para dormir, né? e você, dorme como? e me explica também o por quê dessa pergunta, rs.

beijos, gusta!

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