Acordo cedo, com o sol trespassando a fresta em minha janela. Mais precisamente às sete e trinta da manhã. Levanto-me e vou, silenciosamente, fazer café. Dormi satisfatoriamente. Não sinto cansaço. Tomo meu remédio e fumo meu primeiro cigarro. Todos dormem. O sono dos justos não me acomete há tempos. Porém, dormi durante toda a noite. Sem intervalos, sem sonhos. Sem despertar abrupto rasgando a madrugada. O silêncio interior que nada tem a proferir. Acomete-me a falta de fala em estado meditativo. O que não posso dizer, cala. Jamais estive tão sozinho. Solidão a qual mulheres e gatos estão mais acostumados. Leio mais um trecho de “Os Mujiques”, um conto de Tchekhov. No fundo de minha alma sinto o frio que açoita as personagens. E a pobreza. Não me compadeço. As palavras fazem-me lembrar o assovio dos ventos e a sensação de abandono. Fecho os olhos e vejo-me colhendo gramíneas nas estepes siberianas. Memória atroz, talvez. Incutido nessas lembranças, o vento é ensurdecedor enquanto me abrigo em uma cova de gelo. Somente em mim e dentro de mim, essas memórias fazem sentido. Perco-me na imensidão branca, vendo vidas passadas. O sol brilha acedendo o espírito a essa-vida-de-agora. Os pássaros cantam. Levanto-me para mais um café. E cigarros...

O Eremita

Comentários

O que não podemos dizer é a voz do silêncio ... amei o texto, ''O Eremita'' me identifiquei demais. beijos
Gustavo disse…
Gio M,

Fecho os olhos em silêncio enigmático. Se a Felicidade é Clandestina, não há alegria instituída...
Beijos,

Gus
Gisele Freire disse…
Gostei muito deste texto Gus, e tb gostei muito da visita, obrigada my dear.
bj
Gi
Fui procurar uma carta que tu havia escrito, mas acho que ela desintegrou-se... :(
Gustavo disse…
Gi,

Obrigado mais uma vez.
Beijo,

Gus
Helena Tarozzo disse…
Muito bom esse texto, o Tchekhov coube bem =)
Gustavo disse…
oi Lena,

Tchekhov...
Beijo,

Gustavo

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