As Ilhas Desertas
Novamente, isso quer dizer que a essência da
ilha deserta é imaginária e não real, mitológica e não geográfica.
Simultaneamente, seu destino está submetido às condições humanas que tornam
possível uma mitologia. A mitologia não nasceu de uma simples vontade, e os
povos admitiram bem cedo não compreender seus mitos. É nesse mesmo momento que
uma [15] literatura começa. A literatura é o ensaio que procura interpretar
muito engenhosamente os mitos que já não se compreende, no momento em que eles
já não são compreendidos, porque já não se sabe sonha-los nem reproduzi-los. A
literatura é o concurso dos contra-sensos que a consciência opera naturalmente
e necessariamente sobre os temas do inconsciente; como todo concurso, ela tem
seus preços. Seria preciso mostrar como a mitologia entra em falência nesse
sentido e morre em dois romances clássicos da ilha deserta, Robinson e Suzana. Suzana
e o PacíficoDL acentua o aspecto
separado das ilhas, a separação da moça que aí se encontra; Robinson NT acentua o outro aspecto, o da
criação, o do recomeço. É verdade que são bem diferentes as maneiras pelas
quais a mitologia entra em falência nesses dois casos. Com a Suzana de
Giraudoux a mitologia sofre a morte mais bonita, a mais graciosa. Com Robinson,
a mais penosa.
Comentários