Mountaine
Ah... quanta saudade de estar nas montanhas... Saudade de andar pelas cumeeiras, de conquistar cimos e cumes derradeiros. Picos distantes esvaziam meu pensamento e levam consigo o peso do mundo. Um ou dois dias pra retirar todo esse peso que carregamos. A metafísica de coisas dispensáveis, a metafísica do funcional pragmatismo. Esquecer a cidade e questões cotidianas. Esquecer os apegos. Ouvir apenas o barulho da natureza, o barulho do silêncio, o barulho de si mesmo até que se cale. Até que se ouça apenas os ventos. Assobiando... subindo... descendo... O ruído d’água do sobrenatural, doce lamento que desce lentamente as pedras de inverno. Sopé de um batatal de orquídeas rosa, entardecer sobre os braços de paixões esquecidas. Todas as conversas deixadas de lado e o existencial. Somente o essencial de estar em si. Saudades... de quando o sol despeja seu último raio mais sóbrio, mais sombrio.Tudo parece meu, até onde os olhos enxergam. Todo espaço cheio de meu olhar. Apagam-se informações que nos metralham. Aumenta o número de informações que não vivíamos, que não víamos. Nenhuma corrida ao pódio, nenhum medo nenhum ódio, nenhum desejo sedento de coisa alguma. Nenhuma solidão, nenhum ninguém. O dia transborda sombras de matiz alaranjado. Compro-te um beijo onde se cruzam os ventos. Quanta saudade de andar durante o dia e descansar à noite. Nada me preocupa. Ocupar-se apenas das coisas mais básicas. Pegar água, catar lenha, ver a fogueira... televisão das cavernas. Deixamos, então, de ser homo-videns, e a vídeo-fogueira vem a ser o fogo ancestral – noção primeira de percepção. Faz temer a escuridão, temer a cegueira, temer o abismo e obriga-nos a usarmos todos os sentidos. Todo homem ou mulher deve ser austero na natureza.
Comentários
é sempre assim: no que não é ou não está, o que buscamos.
abçs.
faz todo sentido...
abraço,
Gustavo