Alla Tedesca!

Lembrou-se de quando estavam se separando e do momento em que não tiveram tempo para se despedirem juntos daquela casa. Aquela casa que representava para eles o palco das perdidas ilusões. Lembrou-se de um último beijo, escondidos no quarto, dois minutos a sós, o perfume da pele, o adeus, o carro buzinando tiranicamente. Lembrou-se de como tudo lhe foi arrancado de repente. Seus olhos se encheram d’água e começou a chorar.

__ Ou você chora ou fuma – disse Francisco, delegando rapidez na ação.

Num movimento ágil, como que acordado das profundezas do sonho, fez o sinal da cruz com a mão esquerda porque a direita estava ocupada. Levantou-se e enxugou as lágrimas que lhe escorriam verticalmente, delineando o rosto. Voltou e sentou-se diante do computador, seu lugar de trabalho. Não havia nada que o impedia de fazer isso, pois estava a dez passos da área externa da casa. Francisco, preocupado em saber contas e horários, aproximou-se e perguntou,

__ Que horas sairemos?

Ainda meio zonzo respondeu,

__ Às seis.

__ E o que você está fazendo agora?

__ Nada. Nada especial.

__ Bem, são três horas da tarde. Faz um café pra gente?

__ Faço.

Levantou-se e foi até a cozinha. Colocou a água pra ferver na chaleira e tirou da estante duas canecas vermelhas. “O café confere às elas um ar de utilidade” – imaginava – ”o liquido pra qual foram feitas”. Caía-lhe bem ver o café naquelas canecas rubras. A casa colonial, verde oliva descascado, era bem arborizada e exalava o perfume das palmeiras, dos coqueiros, das folhas das plantas, das flores, das ramagens, das gramíneas, das trepadeiras. O telhado de madeira dava o tom de interior, mas por dentro as paredes eram brancas e as pessoas mais ou menos sérias. Logo o aroma de café contrastava com o perfume de relva, invadindo o interior da casa.

__ Às vezes fica-se pendurado no abismo com uma mão só – disse Chico.

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