__ Obrigado – pegou a caneca vermelha fumegante e continuou – Shri Krishna, no Bhagavad-Gita, diz ao príncipe Arjuna “O sábio não lamenta nem morto, nem vivo. Pois nunca houve um tempo em que eu não era, tu não eras, ou esses príncipes eram. Nem haverá um tempo em que deixaremos de ser” – depois de horas, quando já estavam a caminho, Francisco perguntou – “o que houve àquela hora?”
__ Nada. Apenas me lembrei de uma coisa ruim e minha memória emocional aflorou. – parecia que queria saber sobre as lágrimas. – Pois Tagore, poeta hindu, escreveu em Gitanjali “O viajante tem que lutar pelos seus direitos a cada porta estranha e saber que é preciso caminhar sem rumo pelos mundos exteriores, para chegar ao altar do seu Eu mais profundo. Meus olhos vagaram longe e se perderam antes que os pudesse fechar e dizer, em lágrimas, que se tornaram torrentes de água e inundaram a terra, EU SOU” – falavam sobre os versos mais antigos que a humanidade conhecia. Já estavam a caminho quando Francisco perguntou,
__ O que você anda lendo agora?
__ As Upanishads.
__ Caramba! Só pinta maluco nessa ONG. A Roberta tá lendo um livro do Stephen King e acho que foi por isso que ontem ela quase brigou comigo por conta de uma reportagem sobre a venda ilegal de lotes de assentamento na Amazônia. Porra, o movimento é uma máfia. O quê que “eu” tenho a ver com isso?
__ Você devia ter uma opinião a respeito, mas não sei, não presenciei a discussão. Como é que eu vou saber?
__ ...
__ Isso é que dá se preocupar com tanta coisa. – falou isso porque sabia que estavam preocupados em salvar o planeta. Enquanto viajavam, ele contemplava o entardecer. A luz do sol se inclinava sobre a serra. – sabe, seu Chico, por que a gente não organiza a guerrilha?
__ Você ligou pro Brant?
__ Liguei várias vezes. A secretária disse que ele tava “em reunião”.
__ ?
__ ...
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