Ou isso/ou aquilo

B diz que em uma coisa concorda com A: se você é poeta, é muito provável que seja miserável, porque “a existência de poeta por si fica na obscuridade que resulta em não se levar ao fim o desespero, em ter a alma sempre tremendo em desespero e em o espírito não ser capaz e em o espírito não ser capaz de ganhar tal transparência verdadeira.”

Sǿren Kierkegaard em Ou isso/ou aquilo – segunda parte.



A primeira parte consiste em escritos de A – rabiscos, ensaios como “O homem mais infeliz”, em um diário íntimo chamado “O diário de um sedutor”, que se diz editado por A, mas escrito por alguém chamado Johannes. A segunda parte de Ou isso/ou aquilo consiste de cartas longas de B para A, atacando a filosofia de vida de A e aconselhando-o a deixar a melancolia de lado e tomar uma atitude. B parece ser um advogado ou juiz, casado e feliz. É um cara meio pedante, na verdade, mas um pedante astuto. A parte citada sobre a infinidade da melancolia vem da segunda carta, intitulada “O equilíbrio entre a estética e o ético mo desenvolvimento da personalidade”, mas a essência do livro é a sua oposição da estética e do ético. B não tem duvidas de que a vida ética é superior à estética. Ler Kierkegaard é como voar no meio de uma nuvem pesada. De vez em quando há uma brecha e você tem uma visão clara e brilhante do chão, mas então volta ao cinza da névoa de novo e sequer ter uma idéia de onde está.
Kierkegaard, Sǿren. Filósofo dinamarquês, 1813-1855. Era filho de um comerciante bem de vida e herdou uma fortuna considerável de seu pai. Gastou-a estudando filosofia e religião. Ficou noivo de uma moça chamada Regine, mas terminou o casamento porque decidiu que não era feito para o casamento. Adquiriu uma formação para o sacerdócio mas nunca se ordenou e, no fim de sua vida, escreveu ensaios polêmicos contra o cristianismo convencional. Sem contar com duas estadas em Berlim, nunca saiu de Copenhague. Sua vida parece tão morosa quanto foi curta.

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