daydreaming lágrima em prosa...
A segunda gaveta, ou, a gaveta do meio, foi ou será de pequenas coisas indistinguíveis, em termos de valor, de valoração, ainda que sentimental. Coisas de médio valor, como a impressão de um dia se passando. Coisas do estado presente, da sensação de percepção da passagem do sol, da transitoriedade, das sombras que sobem – a lua em pleno dia, à sombra dos prédios e a mesma paisagem da janela que víamos e onde eu próprio não sei quanto tempo isso vai durar. Mesmo assim arrumo gavetas. A segunda gaveta de sonolento passar do tempo, também contém um pequeno manuscrito. Desculpas se eu disse que não há sentimental, me enganei, vendo aqui agora. Há uma castanhola, recuerdos de España, que me fazem lembrar Carmencita. Sabia que no enredo da trama, já já morreria com uma passional punhalada. Algumas coisas mais, que ficarão como está, uma coleção de moedas, uma chave azul, uma pena, uma trena, uma lanterna pequena, papéis, três CDs velhos, um sabonete de motel, uma medalha de nono lugar e a chave da terceira gaveta. Transitório. Termino a tarde com Martha Argerich e Nelson Freire ao piano inundando o quarto. Os pássaros ainda não cantam como quando ao ocaso. Silencio ao entardecer. O quarto inundado de lembranças de passado, palco de um pequeno Ato Final. Cheio de porra, saliva e lágrima.
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