Termino de digerir mais um dia, por volta da meia noite. Atravessou-me o tempo em que a cada dia as noites eram mais longas. Agora os dias é que são longos... Chegou ao ponto de ruptura. Nada a fazer adiante senão ceder. Ceder à ideia que tanto me incomoda. O trabalho... Ah, como conciliar tudo que quero viver e fazer? Não gosto de agendas, mas vou precisar de uma. E comprar um aparelho irritante, o celular. Não tenho celular há oito anos, quase dez. Acho que nunca tive ao certo. Comprei um para falar com uma namorada que nunca mais me ligou. Anoiteço mais um dia, tantos de espera que a mesmice se vá definitivamente. Estou preso a mim mesmo. Devo pensar menos senão vou adoecer. Devo falar pausadamente, sempre ter paciência, nunca perder o equilíbrio, azedume e descortesia, comentários infelizes, perguntas desnecessárias, respostas deprimentes. Vi chegar a hora da tomada de decisões. Não precisa me lembrar o quê fazer. Estou totalmente concentrado. Preciso re-organizar a bagunça. Informação e redundância de tantas idas e vindas. De tanta vida e tanto de-tudo-um-pouco de tamanha intensidade, sem você. Não posso negar meus sentimentos. Mas devo adestrar meu coração. Com uma canção de ninar, fecho os olhos da alma, cada vez que te “vejo”. Devo adestrar meu pensamento. Devo ser cruel, sem que percebam. Encerra essa dor tamanha, essa tamanha grandeza que dedico à dor. Devo gostar de sofrer... Sofrer coloca as pessoas na zona de conforto. Enfim, ninguém sofre porque quer. Cada um reage à dor de forma diferente. Os metafísicos não vão ajudar. A letra é o prelúdio do fonema. A forma da intenção se dissolve. Cala a noite, a madrugada sem sonhos.
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