merde!
Estou conseguindo. Em nome de Jesus, como dizem. Como canta
o Zeca, da santa cruz, do redentor. Pra ter valor. Tudo é signo. rs... escrevo
um rs e o corretor ortográfico interpreta Rio grande do sul. rs é risos. Um
furor íntimo, que tem acento, pois não intimo ninguém. Ah, outro maneirismo do
Word é subjetivar adjetivos. A gente fica preso ao objeto. (preso mesmo, presa,
corretor. Gracias pelo feminismo.). Tô
ouvindo Festa da vinda do Cartola (tá vendo, Word, cê num fraga o Cartola, Zé.
Mas olha! O Zé ele conhece!). Decidi que vou inovar, ou seja lá o verbo que
você queira usar, mas vou lançar mão
da sociolinguística e ser fluente neu
mesmo. Oxe, agora tá rolando Amor proibido, mas podia chamar Lamento de um
talarico. Quando meu pai foi embora pro semiárido, alegria era o que faltava.
“mulher é um bicho traiçoeiro” disse um talarico, ex-amigo meu. Eu não acho.
Uma costela vale muito. Imaginem se o criador tivesse pedido um braço, um olho,
coisa assim. Essa é a piadinha mais besta que eu já fiz. Piadas a parte. A
minha progenitora teve que fazer terapia por um tempo. Ela que possui uma
destreza enorme no campo da psicologia. Ela colocava, ao lado dela na cama,
umas almofadas grandes pra representar meu pai. Mudou muitos hábitos enfrentou
muitos medos, foi rival dela mesmo e andou na única direção que a vida oferece,
adiante. Em nome do que, de quê, de quem? Diz ela que foi por causa dos filhos.
Mas no fundo eu penso que foi por causa da própria existência. E se nós não existíssemos?
Ela teria morrido? Sei que dizer isso é como aquela “e se minha vó não tivesse
morrido?”, mas é porque (tudo que emito é minha exclusiva opinião) ela se
parece muito com o pai dela, meu avô Galeno, que era garimpeiro de diamantes e
morreu aos 97 anos. Ele, tal como as pedras que garimpava, tinha uma mente
brilhante. Certa vez vi meu tio, que é engenheiro mecânico, mostrar um projeto
pra ele opinar. Fez projetos até o fim da existência. De todo tipo... Plantar pra
colher dalí a vinte anos, quando já beirava os noventa... Moinhos d’água pra
gerar energia elétrica. Coisas assim. Morava com meus pais e me chamava sempre
pra contar seus planos infalíveis. Agarrou-se a vida de maneira comovente. Tem
uma foto dele com as mãos cheias de diamantes. Mas como quem tudo tem nada tem,
perdeu tudo. Foi pra longe de casa. Casou-se com a moca que cuidava dele. Teve
dois filhos. E minha avó resolveu se abandonar. Deitou-se numa casa e não
falava, não comia, não mexia. Não reconhecia nada nem ninguém. Nem a novela das
oito. Uma imagem desoladora. A falta do objeto de necessidade mata. Morreu com
diagnóstico de depressão profunda. Insensatez. Minha mãe, no meio dessa história
toda, voltado à ausência do pai-marido, ela ergueu-se como uma feracidade incrível
do abalo sísmico que nos acometeu.
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