Imagem, Octavio Paz

Parte do texto "Imagem", no qual o poeta mexicano Octavio Paz aborda a unidade significativa da frase poética (a imagem) e utiliza o princípio da identidade dos opostos (isto é aquilo), comum no pensamento oriental, para explicitar a resistência às representações poéticas no pensamento ocidental (isto e aquilo).


"[...]O conhecimento que as doutrinas orientais nos propõem não é transmissível em fórmulas ou raciocínios. A verdade é uma experiência e cada qual deve enfrentá-la por sua própria conta e risco. A doutrina nos mostra o caminho, mas ninguém pode percorrê-lo por nós. Daí a importância das técnicas de meditação. A aprendizagem não consiste na acumulação de conhecimentos, mas na afinação do corpo e espírito. [...] Para a tradição oriental, a verdade é uma experiência pessoal. Portanto, em sentido estrito, é incomunicável. Cada um deve começar e refazer sozinho o processo da verdade. E ninguém, exceto aquele que empreende a aventura, pode saber se chegou ou não à plenitude, à identidade com o ser. O conhecimento é inefável. Às vezes, "esse estar no saber" se manifesta com uma gargalhada, um sorriso ou um paradoxo. Mas o sorriso também pode indicar que o adepto não encontrou nada. Todo conhecimento se reduziria então a saber que o conhecimento é impossível. Uma e outra vez os textos se entregam a esse gênero de ambiguidades. A doutrina se resolve no silêncio. O Tao é indefinível e inominável: 'O Tao que pode ser nomeado não é o Tao absoluto. Nomes que podem ser pronunciados não são os Nomes absolutos'. Chuang-tzu afirma que a linguagem, por sua própria natureza, não pode expressar o absoluto, dificuldade que não é muito diferente da que tira o sono dos criadores da lógica simbólica. 'Tao não pode ser definido [...] Aquele que conhece não fala. E aquele que fala não conhece. Portanto, o Sábio prega a doutrina sem palavras'. A condenação das palavras decorre da incapacidade da linguagem para transcender o mundo dos opostos relativos e interdependentes, do isto em função do aquilo" (O arco e a lira, pág109).

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