Desde que mudamos, cruzei uma etapa lenta em
passo rápido; em motuo continum. Troquei de pele. Desfiz
meu senso de padrão, denão-padrão, e de ausência. Voltei ao início da
linha quântica. Refiz meu senso de estética, de ética, repensando a
hermenêutica, a prosopopeia hemorrágica e cibernética à luz das estrelas. A
não-retórica. Silêncio. Desde que mudamos, esse ângulo mudou de vista. Desde
que mudamos, destruí o templo dos meus sonhos e tento entender o que sobrou de
mim nesse conto. Lamento, mas derrubo lápides. Após cruzar num pulo essa etapa,
aqui estou: re-territorializado. Solidão? Qual tátil sentimento é esse? Qual
Romeo, havia alguém em sua vida. Olho pras janelas quando há alguém. Desde o
infinito até o vale da noite. Dizer que não se quer fazer juízo de valor sobre
qualquer assunto, já é ter algo pra dizer. Presunção de inocência? Prazer em
viver. Pela janela olho para o céu. Olho pras janelas. Quando há alguém que
também sonda a silhueta alheia no espaço vertical dos prédios, do cérebro.
Impressões, cuidado! Volátil, o sentimento aguarda. Arranja de forma impecável
toda desordem. Começo a organizar minha mobília mental, minha casa mental. A
palavra anda solta por aí: livre como passarinho. E, sinceramente, minha vida
vertical se constitui. Gente sempre se adapta a tudo. Quase todo tipo de
privação, ríspida e radical, inesperada. Ou lenta e rigorosa, como o tempo. Uma
volta rodopio. Uma volta ao ser. Uma volta e meia ao prazer de viver.
Mas nunca fiz canção de amor.
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