Noites Adentros, NY

Pixie
A Linda não era mais a mãe que eu conhecia. Andava praticamente ausente com a Pixie. Uma mulher que entrou para o mundo, muito muito ocupado, do busyness. Ela como designer de moda deveria se dedicar mais a ser artista, mas curava-se à Industria. A moda havia atingido status de Arte depois de ser reservado um espaço completo a moda, na Documenta Kassel 2005 (reconhecida mostra quinquenal de arte contemporânea, que acontece em Kassel, na Alemanha). Enfim, não bastasse todo estímulo étnico que NY gera na moda head-to-use, prêt-à-porter, durante quase dois anos tive que trazer isso pra casa, tornei-me observador, tirei conclusões antropológicas, lembrou-me Sartori “o ato de telever muda antropogeneticamete a natureza humana”, Kant, de certo ponto de vista, até fala bem de moda usando diversas vezes a palavra invólucro para se referir ao vestido da mulher. E seria esse invólucro uma forma de se expressar? Porque afinal a necessidade de se expressar? Porque existe a inexorável vontade do tempo. Do homem no Tempo sobre qualquer aspecto, desde o pré-colonial em retratar-se, desde o primitivo dos adereços e ornamentos, marcas, símbolos. A necessidade humana de nomear.
Chegava do trabalho em Manhattan e conversava com a Pixie só o necessário. Eram como companheiras de quarto, room-mate, mais do que mãe & filha. Em Nova Jersey então, como eu podia cuidar disso? Sei que tentar estreitar os laços afetivos entre as duas seria difícil. Além do que, existe um histórico milenar de páreo duro entre mães & filhas (em certa idade ou em certas ocasiões).
O que acontece com as crianças? elas crescem! Em um determinado ponto da vida elas mudam radicalmente, o funcionamento hormonal, os pensamentos e a necessidade de afirmação, a cabeça gira e dá voltas e voltas. Esquecemos que já passamos por isso uma vez.
__Pai, eu vou fazer quatorze. – disse com toda placidez do mundo. Eu permaneci em silêncio por algum tempo, perplexo. Como havia omitido um ano da minha vida, ou melhor, da vida da minha filha? Onde eu estava? Onde estava, afinal, esse ano perdido? Onde estávamos? Ela repetiu:
__ Pai, você ouviu? Eu vou fazer quartoze anos e daqui a dois, eu já posso tirar licença de motorista. – ela falava como adulta. Sério que não senti, não vi a puberdade passando. E o que se há de fazer? Eu não sabia o que falar.
__ Sim, filha. Claro que eu ouvi. – tentei lembrar-me as palavras básicas. Acho que falei qualquer coisa – Sprichst du noch Deutsch, Mausi? – Você ainda fala alemão, ratinha? Era como nós a chamávamos carinhosamente.
Então ela ia fazer quatorze... Acho que as teenagers em NY eram mais despojadas, um pouco cruéis até. A Pixie estava se tornando uma suburbana malvadinha, vendo todo aquele glam da mãe.

>>¨<<

(s e g u e...)

Comentários

Anônimo disse…
quem não se expressa, não vive - de certa maneira.
renata.ferri disse…
Eita conto que vira romance.
Acho que seria: Sprichst du noch Deutsch, Mausi?

Vou esperar mais pelo conto...

Bom dia!!!
Liberté disse…
Pixie Coffee

milk, coffee, ice cream!
Qual o objetivo deste pai?
Menina do mar disse…
Estudo de caso...
Rsrsrsr
Silvares disse…
A minha filha fez quinze em Dezembro. A paixão é igual. Hoje vi-a sorrindo triste para um rapaz de barbicha (como a minha) e uma cabeleira pelos ombros. Fiquei meio estranho. Foi bonito de ver e... não foi. Não sei que dizer. Pensamos que somos adultos mas não sabemos o que isso significa.
Gustavo disse…
Oi Silvares,

é... a gente pensa que é adulto, mas não sabe como reagir quando coisas como essas inevitavelmente acontecem - a puberdade. Me sinto um pouco cúmplice das suas palavras, veja no texto que eu também digo
"E o se há de fazer? Eu não sabia o que falar"
Repara no que disseste
"Não sei o que dizer"
certeiras suas palavras, é quando nos falta a fala e ficamos estranhos, paralizados, é que começamos a rever nossos conceitos.
Forte Abraço.

Gustavo
Gustavo disse…
Georgia,

'brigado pela correção. E gracias pela visita, ah comenta mais vezes!
beijos e obrigado novamente.
auf Wiedersehen.

Gustavo

ps: em que cidade você mora na Alemanha?
Gustavo disse…
menina do mar,

caso sem solução...


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