Noites Adentros, NY
p a r t e 4r u m o a o i n f i n i t o
Encontrei-me com Adele a meio caminho de casa. Ela não explicou nada, mas contou-me que sempre coisas estranhas acontecem em Saint-Denis, apesar de aquilo ir além do estranho, além do próprio além. A minha vida sempre foi escrita ao contrário, em um vôo inacabado enquanto há footprints no ar, indicando o caminho de volta. Há muito tempo Adele não dançava profissionalmente. Fazia parte de uma companhia holandesa itinerante. Morou algum tempo em Amsterdã e acompanhou a trupe por cinco anos, até que um dia cansou-se. Cansou-se das gaitas de fole, cansou-se das trombetas que tocavam pra anunciar a entrada da princesa fada, cansou-se das labaredas e dos cuspidores de fogo. Aquilo estava ficando mambembe demais pra qualquer pessoa de sã consciência. Apesar de que na sua época ainda não havia acrobatas, apenas coreógrafos. O Cirque du Soleil aproveitou o CD e adicionou os acrobatas, os panos e etc. quando a companhia quebrou. Os antigos donos, Edwin e Adda van Hanegem, mudaram-se pro Rio em pleno carnaval. Agora o grande mágico suspendia no ar o sorriso amarelo da lua, meio triste. Defeitos e mazelas, realidades paralelas, objetos inanimados, palavras, homens, mulheres, meninos. Hoje eu me senti mais velho quando acordei. As pessoas estavam desertificadas. Eu já tentei de tudo, além do que eu meu estômago podia aguentar, além dos costumes, além dos cabelos loiros, além da colonização ocidental, nas quentes entranhas das florestas subtropicais para além dos desertos gelados. Talvez essa ligação eterna, impermanente e de face ao infinito, mas acho que os tibetanos não iam gostar mesmo de mim. Ou sim. Por isso me desliguei dessa obstinação e fui encontrar com Frank Delfino, um camarada que vendia perfume francês falsificado na capital da Rodésia, e de lá levava pra Genebra um pacote de heroína batizada. Era um tráfico miúdo, além de outras transas inofensivas, como cambio de moeda, venda do ouro derretido de objetos roubados... Ele passou-me o precioso contato de um guia paquistanês. Estou novamente na estação, fumando um cigarro e esperando o trem.
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c o n t i n u a...
Encontrei-me com Adele a meio caminho de casa. Ela não explicou nada, mas contou-me que sempre coisas estranhas acontecem em Saint-Denis, apesar de aquilo ir além do estranho, além do próprio além. A minha vida sempre foi escrita ao contrário, em um vôo inacabado enquanto há footprints no ar, indicando o caminho de volta. Há muito tempo Adele não dançava profissionalmente. Fazia parte de uma companhia holandesa itinerante. Morou algum tempo em Amsterdã e acompanhou a trupe por cinco anos, até que um dia cansou-se. Cansou-se das gaitas de fole, cansou-se das trombetas que tocavam pra anunciar a entrada da princesa fada, cansou-se das labaredas e dos cuspidores de fogo. Aquilo estava ficando mambembe demais pra qualquer pessoa de sã consciência. Apesar de que na sua época ainda não havia acrobatas, apenas coreógrafos. O Cirque du Soleil aproveitou o CD e adicionou os acrobatas, os panos e etc. quando a companhia quebrou. Os antigos donos, Edwin e Adda van Hanegem, mudaram-se pro Rio em pleno carnaval. Agora o grande mágico suspendia no ar o sorriso amarelo da lua, meio triste. Defeitos e mazelas, realidades paralelas, objetos inanimados, palavras, homens, mulheres, meninos. Hoje eu me senti mais velho quando acordei. As pessoas estavam desertificadas. Eu já tentei de tudo, além do que eu meu estômago podia aguentar, além dos costumes, além dos cabelos loiros, além da colonização ocidental, nas quentes entranhas das florestas subtropicais para além dos desertos gelados. Talvez essa ligação eterna, impermanente e de face ao infinito, mas acho que os tibetanos não iam gostar mesmo de mim. Ou sim. Por isso me desliguei dessa obstinação e fui encontrar com Frank Delfino, um camarada que vendia perfume francês falsificado na capital da Rodésia, e de lá levava pra Genebra um pacote de heroína batizada. Era um tráfico miúdo, além de outras transas inofensivas, como cambio de moeda, venda do ouro derretido de objetos roubados... Ele passou-me o precioso contato de um guia paquistanês. Estou novamente na estação, fumando um cigarro e esperando o trem.
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c o n t i n u a...
Comentários
Por favor, não me leve a mal. Hoje é carnaval.
Parece que tudo não está tão de trás pra frente assim...