30 de maio de 13


Amanheço. Vejo, com devido respeito, aqueles que zelam por mim. Beijo meu pai que ainda descansa sereno. Ontem foi quita-feira, feriado.
Em 1269 um padreco chamado Pedro de Praga resolveu dar as caras no jazigo de Pedro e Paulo. Passando por Bolsena, enquanto rezavam uma missa, teve uma crise de pânico, o já que era esperado. Mas o gajo segurou-se e na hora de mandar a hóstia pra dentro, ela transformou-se em carne viva. Dizem que pingou sangue e tudo e até manchou a batina da praga o Pedro, inclusive as toalhas brancas do altar, sem, contudo, no entanto, manchar o corpo do ingrato. a parte da hóstia branca permaneceu inalterada conservando as mesmas características. O Papa Urbano IV, de nome um tanto arquitetônico, mandou que as provas fossem levadas em procissão até Orviedo, e na hora da festa de Corpus Christi, como não sobrou tempo pra nada, foi decretado feriado. Isso em pleno século XIII durante a idade média. Hoje, passados 744 anos, segundo ulula a obviedade dos fatos, não sei onde reside a praga do sangue o milagre de Pedro, ou se terá sido um embuste, e ele guardava na boca aquele pedaço de carne, mas no ir-e-vir dos fatos, feita a prodigiosa reforma, Ich glaube es nicht (NÃO POSSO crer), disse Lutero, got helf mir (é um Deus nós acuda!) lá de cima ele emenda (o que bem poderia ser a nonagésima sexta tese) quando viu tamanho tumulto que seu protesto causou. Tomba sobre o povo (ourives, pintores, escribas e artesãos) o fato que daquele momento em diante fica desfeito o grande pecado da usura, emprestar ou receber dinheiro a juros. Com a prensa, maquinária de outro alemão, surge a urgência. A pressa de se trocar informação. Sobre o mercado, marca mercantis comércios, mercantilismos mercantilizarão. O informativo pregado na parede do burgo, diz o que interessa àqueles que passam. A imprensa dá um salto “de arromba” o que me leva a dominar um blog. O que me leva a escrever pra Você agora. O que desenvolveu  toda tecnologia  e que jamais teria dado não fosse maior de todos os antissemitas.  a pouco Deus, você deixara de ser o centro das atenções. Quando a imagem torna-se móvel. Quando as imagens saem das catedrais. Quando os artistas assumem que a vez agora seria do homem. Declaram que não toleram mais tropeçar na poeira, que estavam cheios de viver na escuridão! É quando  o homem, sim, nós, criaturas imperfeitas, feitos de uma costela de Eva, quando não se pode usar outro recurso; criados a sua imagem e semelhança, passamos a lograr destaque nas principais manchetes. A lograr ênfase em todo boato mais proeminente. A ser alta cota da maior fofoca. O homem? Você viu? Não diga...
Deus, meu caro, sua sobera tirania inspirou o povo a cometer atos terríveis. Criar objetos de cortam a cabeça, em muitos reis seria usado, em praça pública, lâmina afiada o fio da navalha, com precisão espantosa pra não sobrar duvida.
O homem agora reinava! Com o perdão da contadicta.

Junger Habersmann, o filósofo, ao defender a volatilidade da opinião pública em nossos dias, engana-se ao afirmar que os iluministas não sabiam o significado de doxa, quando professam o célebre postulado “Vox populi, Vox diex”. Doxa, opinião, ao contrário de epistéme, conhecimento exato advindo da ciência, provado pela fenomenologia. Os iluministas seguramente sabiam o sentido da palavra doxa, pois detinham extenso domínio do latim.

Por secular submissão vivemos. tiranizados pela clerical mão de ferro que nos mandava derramar sangue nas cruzadas, nas quais passávamos dez anos lutando quando não morríamos. Voltávamos destituídos de alma, que em alguma batalha deixamos. As mulheres que esperavam nos castelos, liam passagens o apocalipse, as camponesas não viam mais os homens a quem pudessem se entregar, guerreavam e serviam como escudeiros. Na volta podiam toma-las como objetos, mas seria esse um principio? Não seria o estupro, ainda que bem vindo e esperado, sórdido e abominável, muito além de abjeto? Em que planeta estávamos? Que Deus era você por quem lutamos?
O rei, por sua vez, diziam trazia consigo, uma propriedade divina. Algo que lhe era dado pelo poder superior. Era escolhido para governar um povo, pois detinha qualidades supra-humanas, acima do homem, o homem comum, laico. O rei era um pequeno deus na terra. O monarca, destemido, mentira maior não podia existir. Em 1792 na França, em pleno período conflagração, convulsão, indignação, golpe contra o governo, por meio da guilhotina, Luiz XVI, Luiz Capeto, era deposto, decapitado e morto (ao mesmo tempo) em grande estilo. A guilhotina torna-se símbolo da revolução. E o povo não tinha pão nem brioche dona Maria Antonieta, prisioneira de número 280. Espavorida também perdeu a cabeça. Tá certo que a cena devia ser um tanto intensa, mas... Ouvir tanta merda de uma nobreza que falava em Seu nome? Como tolerar uma coisa dessas? Não é por menos que admiro os franceses. Pela habilidade de exaltar-se com as iniquidades. Por enxergar loucura onde se vê sabedoria. Por destacar a tolice onde há generalismo.
Depois calhou em terras britânicas outra revolução de porte abissal, que chegaria para dobrar o curso da história.  Chegou e marcou uma linha no tempo: antes e depois. Assim como a vinda do seu filho. Não tão dramática eu diria. Apesar de que muitos homens comuns, de classes menos favorecidas, de tanto apertar parafusos, chegarão a concluir o ato.  Findarão o autoextermínio. se suicidaram de fato. Não sei se se jogaram no Tamisa, tão limpinho, com uma bigorna amarrada no peito... não sei. Sei que conseguiam. O terror da repetição, o maquinal continuísmo. A indústria então decide que devemos ter horário para recarregar as energias. Impõe hora de almoço, hora do lanche, hora da janta. Hora de acordar pra trabalhar, hora do almoço pra reabastecer a bateria. O que será que um pintor iluminista pensaria disso, ein minha filha?

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