Olha, queria falar uma coisa procês, o Blake tinha (ou tem) razão.
“O excesso de tristeza ri. o excesso de alegria chora” e eu senti isso nas vísceras.
Vixe. Meu pai acordou, são três e 46 da madruga. Acordou pra cuspir. Tô ouvindo
um mantra do Satyananda. Abriu a
geladeira pra beber água e sentar na cozinha, que fica enfrente ao meu quarto,
e mostrar quem é que manda. Nessa casa, que é um apartamento. De cobertura. Na zona
sul. Perto de tudo. Olha minhas rugas de preocupação. Se eu tivesse me dado
conta da superproteção, como chamam essa vontade absurda de anular um caçula (uma
caçula Word? Fuck you! se liga) temporão
e poupá-lo da vida que agora veio cobrar um preço que devo, eu não estaria
escrevendo como faço, eu não desfrutaria de tanto marasmo. Escrever sobre si
mesmo é nada e tudo ficcional ao mesmo tempo. Porque na visão dele eu não tenho
motivos pra me drogar tanto. Mas o dinheiro e meu e ninguém pode falar nada. Minto.
Podem, com toda certeza. Atrapalho a ordem do andamento humanamente previsto e
certo, correto justo, esperado, adequado, propício, saudável a convivência
familiar etc etc etc. mas digo que meus motivos não são o que ele espera. Ele espera
que eu esqueça um dia pro outro toda ilusão, todo sonho. Sonho é uma das cinco bases
da cultura segundo a semiótica no viés dos alemães. Não quero aqui deslanchar a
falar de semiótica. Um assunto que muitos detestam, poucos apreciam e raros alcançam.
Afinal, o objeto é incognoscível to cível e inalcançável em sua totalidade. Nunca
amei uma mulher como amei essa moça que me causou sofrimento tamanho. Nem quero
lembrar. Quero perdoar e esquecer. Que Deus, palavra que tenho que colocar
letra maiúscula, nessa merda de corretor ortográfico, que Deus, em quem já não creio
tanto mas acredito, me dê o dom do perdão. Há dias em que as flores estão mais
bonitas do que em outros. Esse inverno passou e nem fiz uma caminhada nas
montanhas, pois o clima é propício. Apanho flores nas ruas, lembrança de outras
vidas. tiveram uma íntima sensação, um calafrio na espinha, uma certeza. Era um
caminhante que fugia das pessoas e manipulava as ervas. Onde não tinha nada mas
tinha a cura, tinha tudo. Ainda hoje fujo delas, ainda hoje me veem como um
perigo constante, um frágil bruto. Mas não ligo, não dou importância, não tenho
amigos, não sou amado, não querido. Todas as flores secam, obviamente. O obvio
ulula nessas palavras, nesse mundo atroante. Leiam atentamente essas palavras. Devo
ficar distante bastante tempo. Infinitamente.
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