Contos de verão:
Mangueira,
né. Mas para não confundir com a escola de samba ou o instrumento de molhar o
jardim, chamemos hoje de pé. Juliana, que tinha um rosto encantador e as coxas
grossas, menina da cidade que cantava Elis Regina ao som do saxofone, nunca
tinha subido em árvore. Com o pé carregadinho de manga ubá, era até perigoso
ficar ali embaixo dando sopa, pois as frutas caiam bombardeando qualquer cabeça
com o suco amarelo.
Decidida,
Juliana inventou e disse que por aquela estrada de terra que ia até a cidade
ela não voltava, sem antes conquistar o tronco nas alturas e chupar manga do
pé. Por favor garçom, um drink, mango
daquiri, aqui para a cantora molhar a voz. Desta vez não seria assim, nada
de liquido em caixinhas, garrafas ou copos sobrepostos em bandejas. Ela queria
buscar o néctar com as próprias mãos.
A claridade
do dia nublado invadia as frestas deixadas pelas tantas folhas verdes que
povoavam a copa da árvore. Tentou alcançar o galho mais baixo, porém, as pernas
curtas e grossas não permitiram que isso acontecesse facilmente. Recebeu ajuda
do amigo, que ofereceu pezinho. E pra cima ela foi. E estava sentada longe do
chão, com o galho firme entre as pernas.
Não era
suficiente. Juliana ficou de pé, trepou no tronco. Agora já não tinha medo de
nada, sentiu-se protegida pelo perigo da queda. Se fosse para se espatifar, que
fosse com mais tenra manga na mão. Macaco, bicho preguiça, jabuticaba tiveram
inveja da destreza desenvolvida por Juliana em busca do objetivo. De mão cheia,
catou a fruta mais atraente que havia em seu campo de visão. Com os dentes,
arrancou a casca e mordeu, sugou o gosto doce que escorreu pelo canto da boca,
na blusa de boutique e melou os cabelos soltos, longos.
Quando todo
o prazer havia terminado, a menina cantora olhou para baixo e viu que não
conseguiria descer e nem sequer sabia como e porque tinha chegado tão alto.
Como solução, chamou o garçom, pediu uma escada e um drink de morango, fruta
que nasce no chão.
por Renata Ferri
por Renata Ferri
Comentários