Um poeta perdido
Um poeta perdido
Gosto de
terra. Comer grama pela raiz. De mãos dadas com ela. Sobre e sob. Sobe e desce
num pesadelo suado. Acordo de madrugada. Faz o calor de um blues no quarto
seco. Úmidos meus sovacos. O buço brilha a luz de estrelas. Os homens gritam lá
fora em arruaça um gol sem fim que não tem forma. Nesse quarto desarrumado de
hotel barato, samba meu coração um descompasso. O guarda-roupa abre sua porta
rangendo. Só cabemos eu e ele nesse quarto escuro. Estamos em plena Copa do
Mundo de 2014 neste país impossível chamado Brasil. Cheio de dores e esperança.
Cheio de pernas abertas copulando ou parindo. Cheio de vozes gritando e dizendo
caladas: CALADO! Já não suporto mais os nós que a vida dá. Mas tudo é deserto.
Atravesso o mesmo deserto. Tudo são coisas que vejo a distância, maresias,
miragens.
Cláudio Rodrigues
Comentários