Não é isso


Na quadratura de Câncer tudo acontece. Não, não é de astrologia que eu falo. Intensa e repetida e repentina configuração das estrelas. Não, não acredito em horóscopos. Minha lua virgem me indica um caminho, corro para a casa do sol, bufando meu touro, machucando a terra. Ah, essa terra! Queria sacudir os cascos e retirar a terra. Deixar a cabeça, com meus cornos atávicos, nas águas de peixe, coloridos e mansos, sons de mar em bolhas.
Mas a quadratura é de câncer.
Não é dos signos, meu sinal. Meu símbolo de socorro é o meu peito partido: meu signo. Quem entenderá? 
Pouco importa.
Vem a "Indesejada das gentes", febril, faminta, ataca: Um, outro, me amputa. Desgraçada, a morte.
Sob o signo, é chavão, insiste o editor, mas sob o signo da morte, insisto, de teimosa, de taurina, de corna. Ascendente em capricórnio, rolo morro acima a pedra podre da vida.
Flerto com ela. Ela sorri, fétida caveira. Encrava em mim a foice, e ainda assim flerto. Rio da cara imunda dos seus mitos, Morte medonha.
Sobre o tudo, existe a Inevitável .
Quando me vencer, me toma no gozo. Ainda te cuspo na cara, vadia.


C. Valle

Comentários

Lou Magalhães disse…
Que belo texto Cida!
Cida Valle disse…

Agradeço a leitura e o comentário, Lou Magalhães. Sigo exorcizando os fantasmas dessa forma. O que me vem são as palavras, apenas dou vazão ao que transborda.

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