Quinta estreia
A coluna de Cláudio Rodrigues da Silva
Os novíssimos!Ricardo Lísias, um dos nomes na nova ficção brasileira |
O objetivo
principal desta coluna é chamar a atenção para o momento literário em que
estamos vivendo e tentar diminuir o fosso entre suas obras e seus presumíveis
leitores, uma vez que causa espanto o desconhecimento de parte do público leitor
a respeito do movimento que estamos vivendo. Um dos papeis do crítico, pelo
menos o que no momento me imponho e é minha pretensão, é o de aproximar as
obras dos presumíveis leitores.
Somos
contemporâneos, nas últimas três décadas, de um fenômeno literário sem par na
literatura brasileira. Estamos vivendo um dos momentos mais importantes e
fecundos de nossa literatura. Mas um fenômeno igualmente chama a atenção e
causa espanto, esta mesma geração de escritores passa desapercebida de grande
maioria dos leitores.
Mas sempre foi
assim? Em todos os momentos e movimentos de nossa literatura sempre houve esta
defasagem entre o que se produzia e o público? Suponho que não. Grandes autores
nunca tiveram imediata repercussão popular no Brasil. A figura pública de alguns
autores como Drummond, atingiu um público maior em uma época em que o país
tinha uma população bem menor e uma mídia mais restrita que abrangia de uma vez
toda a população. Para se avaliar melhor este fenômeno, seria preciso um estudo
mais apurado que fugiria, pelo menos no momento, às pretensões desta coluna.
Há no Brasil a
questão do pouco número de leitores. Um país com uma quantidade ainda grande de
analfabetos. E os que sabem ler poucos têm, por falta de costume ou
oportunidade, acesso à literatura. Mas não se trata desta questão no momento. O
que causa espanto é que mesmo entre o público leitor de romances e contos,
poucos conhecem os autores da nova geração.
Possivelmente
a largueza dos horizontes midiáticos de hoje, que torna o acesso à informação
mais fácil, por outro fecha as informações em guetos cada vez mais estreitos.
Em uma coluna
de Millôr Fernandes publicada no jornal O
Pasquim, no final dos anos sessenta, o autor se lamentava, não sem uma dose
de ironia, pelo fato sentir estar vivendo sempre antes ou depois do boom de algum momento, de alguma coisa
nas artes, na literatura. Mas o fato é que quando seu texto saiu publicado,
vivíamos um momento de enorme efervescência cultural no país, abrangendo todas
as áreas, na música popular e erudita, nas artes plásticas, no cinema, no
teatro e, entre outras áreas, no humor, que ele mesmo foi importante
protagonista.
É difícil
perceber-se uma curva quando se está em algum ponto desta mesma curva. E se é
difícil percebê-la, ainda mais em que ponto da curva se está, da perspectiva de
um ponto em uma curva, a percepção é de que se está em uma reta.
A afirmação de
que estamos vivendo um momento notável na trajetória de nossa literatura é no
mínimo problemática. A questão sobre a arbitrariedade em se falar de uma nova
ou novíssima literatura brasileira, surge com a publicação dos livros Década de 90: Manuscritos de Computador,
em 2001, e Geração Noventa: Os
transgressores, em 2003, ambos pela Boitempo Editorial, organizados pelo
contista Nelson de Oliveira, reunindo trabalhos de contistas que começaram a
publicar seus trabalhos entre as décadas de oitenta e noventa. O organizador, no
prefácio do primeiro livro, ao comparar a sua geração à responsável pelo boom de contistas que apareceram na
década de setenta, afirma que ela manteve a aprimorou as conquistas da geração
que a precedeu.
Em um trecho
de entrevista, publicada no ano passado no jornal Estado de Minas, dentro de
uma grande matéria a respeito do atual cenário da literatura brasileira, o
escritor mineiro Sérgio Fantini declarou que a geração enfeixada nas duas
antologias, não fazem parte de um grupo e não estão sob nenhum projeto comum,
nada tendo em seus textos que possa indicar alguma filiação, tendo inclusive,
em vários aspectos, posturas antagônicas entre si.
Não havendo na
verdade um ponto de ruptura entre as gerações fica difícil definir o que há de
diferente entre elas. O que acontece atualmente e mais do que dizer que uma ou
mais gerações estão produzindo uma literatura específica. Não é o caso de uma
geração, mas de um momento literário em que textos de autores de idades
diferentes são contemporâneos. Diferencia o atual momento literário, a
quantidade de autores novos, a qualidade das obras, a diversidade de assuntos,
e de experiências estilísticas, a liberdade em relação aos temas, a descoberta
de outros países, outras histórias e culturas. Chama atenção também a
participação muito grande de autores dos estados do Sul do país.
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