em breve!
Os
novíssimos
Somos contemporâneos, nas últimas três décadas, de um fenômeno
literário sem par na literatura brasileira. Estamos vivendo um dos momentos
mais importantes e fecundos de nossa literatura. Mas um fenômeno igualmente
chama a atenção e causa espanto, esta mesma geração de escritores passa
desapercebida de grande maioria dos leitores.
Mas sempre foi assim? Em todos os momentos e movimentos de
nossa literatura sempre houve está defasagem entre o que se produzia e o
público? Suponho que não. Grandes autores nunca tiveram imediata repercussão
popular no Brasil. A figura pública de alguns autores como Drummond, atingiu um
público maior em uma época em que o país tinha uma população bem menor e uma
mídia mais restrita que abrangia de uma vez toda a população. Para se avaliar
melhor este fenômeno, seria preciso um estudo mais apurado que fugiria, pelo
menos no momento, às pretensões desta coluna.
Há no Brasil a questão dos poucos leitores, um número ainda
grande de analfabetos e mesmo entre os que sabem ler, poucos têm costume de ler
livros. Mas não é esta a questão no momento. O que causa espanto é que mesmo
entre o público leitor de romances e contos, poucos conhecem os autores da nova
geração.
Possivelmente a largueza dos horizontes midiáticos de hoje,
que torna o acesso à informação mais fácil, por outro fecha as informações em
guetos cada vez mais estreitos.
Em uma coluna que Millôr Fernandes publicou no jornal O
Pasquim, no final dos anos sessenta, o autor afirmou que sentia inveja das
pessoas que viveram o momento de algum boom
nas artes, na literatura, em alguma coisa. Ele se lamentava da sensação de
estar vivendo sempre, antes ou depois de algum boom em alguma coisa. /A sensação de que vivia além ou aquém de
algum boom, de algum grande momento/.
Pode ser que tenha escrito isso em um sentido irônico, de qualquer forma,
quando seu texto saiu publicado, estava justamente acontecendo no país o
movimento da Tropicália, e músicos de todo o país fazendo um tipo de /música/
totalmente nova, em ternos nacionais ou internacionais, rompendo barreiras do
erudito com o popular, dialogando com o que havia de mais interessante na
vanguarda musical daquele momento. Foi um momento importante do cinema
nacional. Foi um momento dramático da nossa história. Foi um momento importante
nas artes plásticas, na poesia, na ficção, na crítica, na ensaística, e no
humor, que ele mesmo era um grande representante, trabalhando em um jornal que
por si só fez o momento. /vivia em um momento de grande efervescência,
É difícil perceber-se uma curva quando se está em algum
ponto desta mesma curva. E se é difícil percebê-la, ainda mais em que ponto da
curva se está, da perspectiva de um ponto em uma curva, a percepção é de que se
está em uma reta.
O objetivo desta coluna é discutir a respeito da chamada
novíssima literatura brasileira, em prosa. Por isso é preciso definir algo que
por si não aceita facilmente definições, e em outro momento apontar em que se
diferencia de outros momentos de nossa literatura.
Esta afirmativa de que estamos
vivendo um momento notável na trajetória de nossa literatura é no mínimo problemática.
A questão sobre a arbitrariedade em se falar de uma nova ou novíssima
literatura brasileira, surge com a publicação dos livros Década de 90: Manuscritos de Computador, em 2001, e Geração
Noventa: Os transgressores, em 2003, ambos
pela Boitempo Editorial, organizados pelo contista Nelson de Oliveira, reunindo
trabalhos de contistas que começaram a publicar seus trabalhos entre as décadas
de oitenta e noventa. O organizador, no prefácio do primeiro livro, ao comparar
a sua geração à responsável pelo boom
de contistas que apareceram na década de setenta, afirma que ela manteve a
aprimorou as conquistas da geração que a precedeu.
Em um trecho de entrevista, publicada no ano passado no
jornal Estado de Minas, dentro de uma grande matéria a respeito do atual cenário
da literatura brasileira, o escritor mineiro Sérgio Fantini declarou que a
geração enfaixada nas duas antologias, não fazem parte de um grupo, não estão
sob nenhum projeto comum e nada em seus textos pode indicar uma igual filiação,
tendo inclusive em vários aspectos posturas antagônicas entre si.
Um dos objetivos desta coluna é chamar a atenção para o
momento literário em que estamos vivendo e tentar diminuir o fosso entre suas
obras e seus presumíveis leitores, uma vez que causa espanto o desconhecimento
de parte do público leitor a respeito do movimento que estamos vivendo.
Um dos papéis do crítico, pelo menos o que no momento me
imponho e é minha pretensão, é o de aproximar as obras dos presumíveis
leitores.
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